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Ilan: BC independente deve focar na inflação para favorecer o crescimento do país

Publicado 09.04.2018, 12:29
© Reuters.  Ilan: BC independente deve focar na inflação para favorecer o crescimento do país

Arena do Pavini - A maior contribuição de um Banco Central (BC) é assegurar a sustentabilidade do crescimento da economia em um ambiente macroeconômico de inflação baixa e estável, afirmou o presidente do BC, Ilan Goldfajn, em evento nos Estados Unidos no Massachussets Institute of Technology (MIT), de Harvard, o “Brasil Conference 2018”. Goldfajn defendeu a independência do BC, que está em discussão no Congresso, e que deve definir também quais as missões da instituição. Há uma divisão entre os que defendem que o BC tenha duas metas, garantir a inflação baixa e o crescimento do país ou o nível de emprego, e os que acham que ele deve concentrar-se na inflação, sob o risco de não conseguir atingir nenhum dos dois objetivos.

Goldfajn destacou que, além das metas para a inflação, o Banco Central é responsável pela estabilidade do sistema financeiro, o que também contribui para o crescimento sustentável da economia. E que atua de forma a se manter neutro e apartidário, desempenhando uma função eminentemente técnica.

Para ele, o BC cumpre melhor seu papel tendo um único objetivo claramente definido, que é o controle da inflação e lembra que, no curto prazo, a condução da política monetária está sujeita a decisões temporárias que podem ser conflitantes em termos de estabilização da inflação e manutenção do crescimento. Assim, para segurar a inflação, às vezes é preciso subir os juros temporariamente para desaquecer a economia, e isso reduz o emprego, até que os preços estejam novamente controlados e o crescimento possa ser retomado. Caso o BC não controle esse ritmo de crescimento acima do que a economia pode sem provocar inflação, o resultado será um descontrole de preços que acabará desorganizando os mercados e levando a uma queda maior da atividade e do emprego e até a uma recessão.

“Esse potencial conflito impede a clara aferição de resultados no caso de um duplo mandato com metas explícitas para inflação e crescimento do PIB”, lembra o também economista. Ou seja, é difícil ter um parâmetro para avaliar se o BC se saiu bem nas duas missões.

A dificuldade de medir o desempenho piora a qualidade da política do BC, defende Goldfajn, que lembra que o aumento do emprego na economia vem com crescimento sustentado, e não apenas de taxas de juros mais baixas. E isso depende de boa gestão do governo como um todo, com política fiscal e contas públicas em ordem, com investimentos eficientes em infraestrutura, educação e inovação e por meio de outras medidas institucionais nas várias áreas de atuação do governo. Essa seria uma dificuldade para usar o nível de emprego como outra das metas do BC além da inflação.

Colocar tudo isso na responsabilidade do BC seria complicado, e poderia levar a autoridade monetária a tomar medidas que complicariam as outras metas, como o controle da inflação.

Inflação de 3% seria meta para Brasil

Goldfajn afirma ainda queo consenso é que os bancos centrais devem perseguir uma taxa de inflação baixa e estável. Ele lembra que há discussões quanto ao nível ótimo de inflação, não só em economias emergentes mas também para países mais desenvolvidos. Países emergentes, como o Brasil, tendem a ter uma meta acima da adotada nas economias desenvolvidas, mas países emergentes mais estáveis têm a meta de inflação próxima a 3%, afirma. “No longo prazo, quanto mais próximos ficarmos do restante do mundo, melhor para nós”, afirma Goldfajn. Hoje, a meta do BC é uma inflação de 4,5%, que cairá para 4,25% no ano que vem e para 4% em 2020. “Considero que o maior desafio na condução de uma política monetária é assegurar um ambiente de inflação baixa por um longo período de tempo”, afirma. Para isso, é preciso é preciso persistir nas reformas e ajustes da economia brasileira, destaca.

Inflação baixa beneficia mais os mais pobres

Há um papel socioeconômico fundamental desempenhado pela inflação baixa e estável, afirma Goldfajn. Quem mais sofre com altas taxas de inflação são as pessoas na base da pirâmide de distribuição de renda. “Essas pessoas consomem toda a sua renda e uma inflação mais elevada reduz sua capacidade de consumo, sem que elas possam fazer nada para preservar seu poder aquisitivo”, lembra.

Isso compromete o nível de bem-estar mínimo de muitos. As pessoas com maior renda têm condições de evitar a erosão da sua capacidade de adquirir bens e serviços, bem como de proteger seu patrimônio.

Inflação baixa, portanto, é uma condição para que se possa garantir um nível de bem-estar mínimo às pessoas mais pobres e é, também, fator de alívio para a concentração de renda, causa de distorções sociais e econômicas indesejadas.

Além disso, manter a trajetória da inflação baixa e estável reduz o risco associado à tomada de decisão de médio e longo prazos, como investimentos, lembra Goldfajn. Essa é uma condição necessária para se promover o crescimento sustável pois a incerteza associada a ambientes macroeconômicos de inflação alta e instável leva à queda do investimento e à alocação ineficiente de recursos produtivos. “Inflação baixa permite juros menores e uma recuperação consistente da economia”, conclui.

Por Arena do Pavini

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