BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, avaliou nesta terça-feira que a inflação sofreu "uma queda significativa" em anos recentes, após a divulgação mais cedo de que o IPCA acumulou alta de apenas 2,68 por cento nos 12 meses até março.
Ao fazer sua apresentação em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, Ilan também reiterou a mensagem de que o BC deve adotar novo corte na Selic em maio, encerrando o ciclo de afrouxamento monetário em seguida, se o cenário base da autoridade monetária não se alterar.
Aos senadores, Ilan lembrou que o IPCA caiu de 10,7 por cento em 2015 para o atual patamar. Mesmo com o recuo expressivo, seguiu apontando que a inflação projetada para 2018 e para os próximos anos "está sob controle, convergindo para as metas".
Nas contas do BC, a inflação deve fechar este ano em 3,8 por cento pelo cenário de mercado, abaixo da meta de inflação, de 4,5 por cento, com margem de tolerância de 1,5 ponto.
"Há expectativa que a recuperação da atividade econômica contribua para a convergência da inflação rumo às metas no horizonte relevante", disse Ilan.
Em março, o IPCA teve variação positiva de 0,09 por cento, nível mais baixo para o mês em 24 anos diante dos preços mais baratos de passagens aéreas e da gasolina, ratificando o espaço para o BC cortar novamente os juros básicos.
Essa perspectiva de nova redução na Selic vem sendo apontada pelo BC desde que cortou a Selic em 0,25 ponto percentual no último mês, ao patamar histórico de 6,50 por cento ao ano.
INSATISFEITO
Ilan também destacou que o BC não está satisfeito com a velocidade da queda dos juros ao consumidor e do spread bancário --diferença entre o custo de captação e a taxa efetivamente cobrada ao consumidor final-- e quer que esse movimento seja mais rápido.
Nesse sentido, afirmou que a autoridade monetária segue comprometida com medidas para barateamento do crédito, com a agenda BC+, citando medidas já adotadas para restringir, por exemplo, a cobrança de juros mais altos nas modalidades de cartão de crédito e no cheque especial, estas últimas reguladas pelos próprios bancos.
Nesta manhã, a Febraban, federação que representa os bancos, anunciou que as instituições financeiras passarão em julho a ofertar aos usuários do cheque especial uma opção de linha de crédito com juros mais baixos. Ilan não fez comentários mais detalhados sobre as medidas.
Bastante questionado pelos senadores sobre quando os juros mais baixos de fato chegarão às famílias e empresas, Ilan defendeu que essa redução deve ser feita de forma estrutural e não voluntariosa.
Também apontou que há outras causas que tornam o custo de crédito alto no país, como o alto custo operacional e regulatório, a falta de boas garantias, a necessidade de mais informação no sistema, os subsídios cruzados, os altos compulsórios e a necessidade de estimular a concorrência.
A respeito do cenário externo, Ilan reiterou que ele ainda se mostra favorável e tem contribuído, até o momento, para manter o apetite ao risco em relação aos países emergentes, mas que não se pode contar "com essa situação perpetuamente".
(Por Marcela Ayres)