Arena do Pavini - Não é desprezível a chance de que o Banco Central volte a cortar o juro básico, hoje em 6,5%, um dos menores da história do país, diante do atual quadro de crescimento morno e inflação abaixo da meta. A avaliação é da LCA Consultores, que considera, porém, pouco provável que isso venha a ocorrer sob a batuta de Ilan Goldfajn, presidente do BC. Já com seu substituto, Roberto Campos Neto, no comando, a nova flexibilização deverá depender do avanço das reformas. Campos Neto ainda tem de ser sabatinado pelo Senado para assumir o cargo, o que pode ocorrer em março.
Um novo corte dos juros afetará as aplicações pós-fixadas atreladas ao juro Selic, como as LFTs do Tesouro e os fundos DI, bem como os corrigidos pelo juro privado do CDI, caso das LCIs e LCAs e a maioria dos CDBs. Ganharão as aplicações prefixadas, como as LTNs do Tesouro, os fundos renda fixa e os CDBs prefixados. E os ativos de risco, pois o juro menor deve estimular o consumo e o lucro das empresas, beneficiando as bolsas e a diversificação.
Alívio para os emergentes
Para a consultoria, o Federal Reserve (Fed, banco central americano) trouxe certo alívio aos mercados internacionais nos últimos dias, depois que reafirmou intenção de pausar o processo de normalização da política monetária americana. Ao lado disso, o noticiário político global parece começar a oferecer alguns (tímidos) sinais alvissareiros.
Nessas circunstâncias, a aversão ao risco neste começo de ano tem permanecido mais contida do que na segunda metade do ano passado – permitindo uma recuperação nos preços dos ativos e moedas emergentes. Esse cenário mais favorável aos emergentes ocorre a despeito dos sinais de desaceleração econômica global.
Na ata do Copom divulgada hoje, a LCA observa que o Banco Central reconheceu que os riscos externos sofreram certo arrefecimento, sobretudo em razão da redução das incertezas com relação à política do Fed. Mas a autoridade deixou a entender que esse quadro favorável pode ser apenas mais um “interregno benigno”.
Pouca ajuda de fora para o Brasil crescer
Para a LCA, a hipótese central é de que o ambiente internacional trará maior volatilidade aos mercados domésticos, mas terá influência relativamente neutra sobre o ritmo da retomada da economia brasileira no biênio 2019-20.
Nesse ponto, sem poder contar com ajuda significativa da demanda externa, a economia doméstica tende a acelerar apenas moderadamente em 2019-20 – apoiada na política monetária estimulativa e na expectativa de que a aprovação tempestiva de reformas reforce a confiança privada e destrave os investimentos.
Janela de oportunidade de corte da Selic
Mas parece vir se abrindo uma janela de oportunidade para que a taxa básica Selic seja reduzida mais adiante, o que ampliaria a contribuição da política monetária para a recuperação da economia, defende a LCA. “Avaliamos que os riscos inflacionários tendem a continuar a refluir ao longo dos próximos meses, período no qual a inflação acumulada em 12 meses, segundo nossas projeções, recuará para perto do piso da meta”, diz a consultoria. Em um contexto em que a economia tende continuar a crescer em ritmo morno, isso poderá levar o Banco Central a reavaliar a assimetria de seu balanço e estudar um novo corte dos juros.
Mais para meio do ano e com reforma da Previdência
Mas a LCA ressalta que a perspectiva de que uma nova rodada de redução de juros será implementada mais para meados deste ano ainda requer que: (i) o ambiente internacional não sofra deterioração capaz de intensificar pressões sobre nossa cotação cambial; e (ii) que a expectativa de que será aprovada uma reforma previdenciária “satisfatória” se torne generalizada e consolidada – o que, por sua vez, pressupõe uma diluição de incertezas na seara política interna.
Em seu cenário base, por enquanto, a LCA continua a antecipar a manutenção da Selic por um período prolongado. Mas as chances de que a taxa básica de juros seja reduzida parecem vir crescendo. O encaminhamento da reforma previdenciária nas próximas semanas e as primeiras sinalização de política monetária sob o comando Roberto Campos Neto podem levar a consultoria a ajustar para baixo a curva projetada para a Selic.
Sem poder contar com ajuda significativa da demanda externa, a economia doméstica precisará contar com a melhora das condições internas para sustentar as expectativas de moderada aceleração neste ano. “No nosso entender, dois vetores têm impulsionado essas expectativas: a política monetária estimulativa e a perspectiva de aprovação tempestiva de reformas, a começar pela previdenciária”, acredita a LCA.
No geral, as perspectivas continuam cautelosamente otimistas em relação a esses dois principais vetores de aceleração do crescimento brasileiro, avalia a consultoria. Ela continua a considerar preponderante a perspectiva de aprovação, ainda neste ano, de uma reforma previdenciária “satisfatória”, que gere uma economia de recursos algo superior àquela prevista na proposta do governo Temer que já tramitou pelas comissões da Câmara. E mantém, por enquanto, projeção de que a taxa básica Selic permanecerá estacionada nos 6,5% ao longo de todo este ano.
Por Arena do Pavini