SÃO PAULO (Reuters) - Quase 40% dos transportadores rodoviários do Brasil registraram uma piora nos lucros no primeiro semestre, apontou pesquisa da associação NTC&Logística, com o aumento de custos e menor volume de cargas citados por boa parcela dos entrevistados.
O índice dos que indicaram um resultado pior cresceu cerca de 10 pontos percentuais na comparação com o levantamento divulgado em janeiro, enquanto aqueles que apontaram uma melhora nos lucros agora são 36,5%, versus 53,6% há seis meses.
O estudo apontou ainda que 49% dos pesquisados avaliam que o valor futuro do frete rodoviário vai piorar para o transportador, o maior nível de pessimismo no levantamento semestral desde o início de 2021, pelo menos, em meio a preocupações com a implantação da reforma tributária e uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a Lei dos Motoristas.
No primeiro semestre, a NTC&Logística apurou um reajuste médio de apenas 0,44% nos fretes, com cerca de 23% dos transportadores entrevistados relatando que foram levados a conceder descontos, 36,6% mantendo o valor e 40,7% elevando o preço.
O reajuste médio fica distante do índice nacional de custos de transporte da associação, que em 12 meses aponta uma alta de 4,14% para cargas fracionadas e 7,9% para cargas lotação, com impulso de custos com combustíveis (18,2%), mão de obra (6%) e gastos com o veículo (5,2%).
"Tivemos aumento significativo nos custos, a nossa atividade é um setor com alta competitividade entre empresas, o mercado é disputado, com as concorrências que os grandes embarcadores realizam...", disse o presidente da NTC&Logística, Eduardo Rebuzzi, à Reuters.
Segundo o dirigente, cenário para o setor piorou para cerca de 40% das empresas devido às dificuldades de se "repassar preços do frete, com necessidade de dar descontos, além da redução no volume de cargas, sobretudo fracionada".
A pesquisa apontou ainda que quase 70% dos transportadores estão preocupados com os impactos da reforma tributária, considerando que o ambiente de negócios vai piorar.
"Estamos atentos, mas é sempre cenário de preocupação, normalmente vemos o governo aumentar e não diminuir o custo tributário das empresas", comentou.
O levantamento também indicou que mais de 85% das empresas devem ser afetadas pela decisão do STF sobre a Lei dos Motoristas. Eles estimam aumento de custos de quase 18%.
"Há preocupações como ADI (Ação Direta de Inconstitucionalidade) 5322, que modificou a Lei do Motorista em pontos importantes", afirmou, lembrando que ela altera a forma como as empresas transportadoras operam, por conta do tempo dos condutores no trabalho e também questões relacionadas ao tempo de descanso dos motoristas.
"Isso pode gerar aumento de custo, e sempre é difícil repassar aumento de custo."
Para Rebuzzi, enquanto o STF não modular o que decidiu em relação à ADI, o setor está com "a espada na cabeça", o que gera preocupações grandes.
(Por Roberto Samora)