Por Gabriela Mello
SÃO PAULO (Reuters) - O mercado brasileiro de escritórios corporativos neste ano dará continuidade à recuperação iniciada em 2017, quando registrou crescimento de quase 270 por cento na ocupação em São Paulo e superior a 100 por cento no Rio de Janeiro, apoiado na melhora da economia e da confiança entre os empresários.
Para 2018, a expectativa é de que os preços dos imóveis se estabilizem antes de retomarem a trajetória de alta interrompida pela mais severa recessão em décadas, mas esse processo não será uniforme e tende a variar conforme a região, mostrou estudo da consultoria imobiliária NAI Brazil.
A companhia, que é fruto de uma associação da Engebanc Real Estate com a NAI Global, quinto maior grupo de corretagem do mundo, atua no gerenciamento e supervisão de projetos, além de fazer avaliações de propriedades, tendo entre os clientes empresas como Petrobras (SA:PETR4), grandes bancos e redes de varejo.
"O mercado ainda não está 100 por cento recuperado da crise mas ficou claro no fechamento do ano passado que o pior ficou para trás... 2018 tende a ser bom e pode ser espetacular se tivermos um cenário eleitoral benigno ao fim do primeiro semestre", afirmou à Reuters o presidente da NAI Brazil, Marcelo da Costa dos Santos.
Santos explicou que o mercado de escritórios corporativos tende a operar normalmente até o fim de junho ou início de julho, dando continuidade ao desempenho positivo do último trimestre do ano passado, mas a indefinição na política pode retardar o ritmo de atividade até as eleições. Ainda segundo ele, o desfecho mais favorável para o setor seria a vitória de um candidato de centro-direita com agenda reformista.
Na cidade de São Paulo, cujo estoque nas principais zonas empresariais somava mais de 5 milhões de metros quadrados, as locações superaram o total de desocupações em 194.845 metros quadrados em 2017, alta de 267 por cento ante o saldo de 53.084 metros quadrados apurado em 2016.
"O ano de 2017 foi o melhor da série histórica desde 2012 tanto na absorção líquida quanto bruta", observou Daniel Iannicelli, diretor de serviços corporativos, escritórios e varejo da NAI Brazil.
Com isso, a disponibilidade em São Paulo caiu a 21 por cento, de 22,3 por cento no ano anterior. Apenas no segmento de alto padrão, essa taxa recuou para 20,3 por cento, de 25,1 por cento em 2016. Para imóveis intermediários, o percentual foi a 21,8 por cento, de 19,2 por cento.
Segundo Iannicelli, inquilinos ainda encontram preços e condições contratuais atrativos, o que deve favorecer o chamado "flight to quality", uma migração para empreendimentos mais sofisticados e com melhor especificação técnica nos próximos meses.
Ele ressaltou, no entanto, que as entregas de novos imóveis devem cessar neste ano, abrindo uma janela para consumo dos estoques antes da chegada de novos lançamentos. "Esse novo estoque estará quase todo consumido em dois anos, dependendo da região", explicou o diretor.
No caso do Rio de Janeiro, que vive uma crise de segurança pública e das finanças estaduais, a disponibilidade subiu para 36 por cento em 2017, de 31,5 por cento no ano anterior, muito embora as ocupações tenham superado as desocupações em 2.680 metros quadrados, marcando uma inversão do resultado líquido negativo de 101.514 metros quadrados de 2016.
"O Rio de Janeiro tem uma peculiaridade interessante... a diferença de preços entre alto padrão e intermediário é menor, então não se vê tanto flight to quality", explicou Iannicelli, acrescentando que a NAI Brazil já tem uma demanda contratada de 20 mil metros quadrados no mercado carioca.
GALPÕES INDUSTRIAIS E LOGÍSTICOS
Diferentemente do setor de escritórios corporativos, 2017 foi o pior ano para o mercado brasileiro de galpões industriais e logísticos, com queda de 24 por cento nas ocupações ano a ano, apontou o levantamento da NAI Brazil.
O desempenho negativo foi puxado principalmente pelo Rio de Janeiro, onde a disponibilidade cresceu de 19,2 para 25,3 por cento, ofuscando números mais positivos em outras praças, notavelmente São Paulo, que respondeu por 71 por cento de tudo que foi locado em 2017.
"São Paulo, Pernambuco e Minas Gerais estão perto de uma retomada mais contundente, enquanto o Rio de Janeiro e o Paraná estão um pouco atrás e devem ter lentidão na recuperação", disse Abiner Oliveira, diretor de serviços industriais e logísticos da NAI Brazil.
Em São Paulo, destacou Oliveira, 87 por cento das ocupações ocorreram na Grande São Paulo, com destaque para os municípios de Guarulhos, Cajamar e o Grande ABC, onde a disponibilidade já beira um nível "saudável" de 15 por cento.
"Guarulhos liderou por causa do trecho norte do Rodoanel (leiloado em janeiro pelo governo paulista), mas Cajamar também foi bastante demandado, tendo vocação para grandes locações com inquilinos alugando acima de 15 mil metros quadrados", afirmou Oliveira.
Na avaliação dele, a tendência para o setor de galpões industriais e logísticos como um todo é de crescimento, com menor pressão de preço e vacância mais controlada. "Não haverá tanta flexibilidade nas negociações e concessões como carência alongada e descontos tendem a diminuir, dependendo das eleições", explicou Oliveira.