Por Nick Tattersall e Tulay Karadeniz
ISTAMBUL/ANCARA (Reuters) - Os militares da Turquia disseram nesta sexta-feira que tomaram o poder, mas o primeiro-ministro do governo eleito afirmou que a tentativa de golpe seria controlada.
Em caso de sucesso dos militares, a derrubada do presidente Tayyp Erdogan, que governa a Turquia desde 2003, representaria uma das maiores mudanças de poder no Oriente Médio em anos.
O primeiro-ministro Binali Yildirim afirmou que o governo eleito continua na função. Não houve um comentário imediato de Erdogan. O canal turco associado à CNN disse que ele estava “seguro”.
As Forças Armadas disseram em comunicado enviado por e-mail e relatado por canais de TV turcos que tomaram o poder no país para proteger a ordem democrática e manter os direitos humanos. Todas as relações exteriores atuais da Turquia serão mantidas, e a manutenção da lei continua a prioridade, disse o texto.
A agência de notícias estatal Anadolu declarou que o chefe do corpo militar da Turquia estava entre as pessoas tomadas como reféns na capital Ancara. A CNN turca também relatou que reféns eram mantidos em sedes militares.
A Turquia, uma integrante da Otan e segundo maior efetivo militar da aliança, é um dos mais importantes aliados dos Estados Unidos na luta contra o Estado Islâmico.
O país fornece apoio aos oponentes do presidente da Síria, Bashar al-Assad, na guerra civil do país e abriga dois milhões de refugiados sírios.
Além disso, a Turquia está em guerra com os curdos separatistas e sofreu vários ataques a bomba e tiros neste ano, incluindo um há duas semanas cometido por islâmicos no principal aeroporto de Istambul, que matou mais de 40 pessoas.
Depois de ocupar o cargo de primeiro-ministro desde 2003, Erdogan foi eleito em 2014 presidente com planos para mudar a Constituição e dar mais poderes executivos à Presidência.
O seu partido, o AKP, tem origens no islamismo e há muito tempo mantém uma relação tensa com os militares e nacionalistas num Estado fundado a partir de princípios secularistas depois da Primeira Guerra Mundial, e que tem uma história de golpes militares.
O premiê Yildirim afirmou que um grupo dentro das Forças Armadas turcas tentou derrubar o governo, e as forças de segurança foram chamadas para “fazer o que é necessário”.
"Algumas pessoas realizaram uma ação ilegal fora da corrente de comando”, disse Yildirim em comentários transmitidos pelo canal de TV privado NTV. “O governo eleito pelo povo continua no poder. Este governo somente sairá quando as pessoas assim disserem.”
As pessoas por trás do golpe pagariam o preço mais alto, acrescentou.
Imagens de canais de TV locais mostraram veículos militares bloqueando pontes em Istambul, e tanques no principal aeroporto da cidade. Aviões e helicópteros sobrevoavam a capital Ancara. Um jornalista da Reuters ouviu o barulho de tiros.
Uma autoridade turca que não quis ser identificada afirmou que soldados estão em outras cidades da Turquia, mas não especificou quais.
A agência de notícias Dogan relatou que a polícia nacional havia convocado todos os policiais para o serviço em Ancara.
(Reportagem de Ayla Jean Yackley, Nick Tattersall, David Dolan, Akin Aytekin e Orhan Coskun)