BRASÍLIA (Reuters) - As negociações de livre comércio entre a União Europeia e o Mercosul ainda enfrentam obstáculos por causa da carne bovina e do etanol, e um anúncio de acordo esperado para esta semana pode não acontecer, disseram nesta segunda-feira autoridades envolvidas nas conversas.
Diplomatas do bloco comercial sul-americano presentes às conversas, ocorridas nos bastidores do encontro de ministros da Organização Mundial do Comércio (OMC) em Buenos Aires, afirmaram que as autoridades da UE não apresentaram ofertas melhores para as importações de carne bovina e etanol sul-americanos sem tarifas para o bloco, como prometido.
"Basicamente, eles querem que mostremos nossas cartas antes de mostrarem as deles", disse um diplomata de primeiro escalão de um país do Mercosul à Reuters, pedindo para não ser identificado devido ao estágio delicado das negociações.
A resistência de alguns países-membros da UE às importações agrícolas, como a Irlanda e a França, adiou a negociação do acordo de livre comércio com o Mercosul, que almeja liberalizar o comércio, o investimento, os serviços e o acesso a licitações públicas.
O presidente Michel Temer, que falou aos repórteres depois de participar da reunião de abertura da OMC no domingo, disse que um anúncio do acordo político estrutural do pacto UE-Mercosul pode ter que esperar até 21 de dezembro, quando os presidentes do bloco se reúnem em Brasília.
Uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores argentino disse que um entendimento sobre a conclusão das negociações, que já duram quase duas décadas, ainda pode acontecer até quarta-feira em Buenos Aires, ou então na semana que vem no Brasil.
Além da discórdia sobre a quantidade de carne bovina que as nações da UE permitiriam entrar a cada ano livre de tarifas, diplomatas da UE disseram que as regras de origem ainda têm que ser incluídas no acordo político provisório.
O Brasil disse que isso pode ser acertado nos próximos meses, e um pacto definitivo ser firmado em meados de 2018.
O Itamaraty minimizou os obstáculos para um acordo."Sobrou muito pouca coisa para negociar, e não são questões fundamentais", disse um funcionário, pedindo anonimato.
Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, que integram o Mercosul, estão pressionando por uma melhoria na oferta da UE de importações sem tarifas, pedindo 70 mil toneladas de carne bovina e 600 mil toneladas de etanol por ano.
(Por Anthony Boadle; reportagem adicional de Nicolas Misculin em Buenos Aires e Phil Blenkinsop em Bruxelas)