Por Robert Evans
GENEBRA (Reuters) - Países latino-americanos e europeus se uniram nesta sexta-feira para pressionar pela adoção de uma resolução pedindo o fim da violência contra homossexuais por meio do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), apesar da forte oposição de nações islâmicas e africanas.
A resolução, aprovada por 25 votos a favor e 14 contra no organismo de 47 membros, fez com que o tema permaneça na agenda diante do que seus apoiadores dizem ser uma maré crescente global de discriminação e abusos físicos contra gays e lésbicas.
O grupo pediu ao novo Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, o ex-diplomata jordaniano Zeid Ra'ad Al Hussein, que se reporte ao conselho no ano que vem a respeito do tema e proponha maneiras de superar o problema.
A medida foi elaborada por Argentina, Brasil, Chile e Colômbia. O Chile argumentou que votar contra ela seria, na prática, fazer vista grossa ao tratamento violento dispensado a "milhões de pessoas de todo o mundo com base em sua orientação sexual".
O Paquistão, falando em nome dos 57 países da Organização de Cooperação Islâmica, disse ao conselho que a resolução é "prejudicial a nossas sociedades muçulmanas, especialmente nossa juventude", e o Egito afirmou que a homossexualidade não está contemplada nos acordos de direitos humanos da ONU.
Em nome da União Europeia, Itália e Irlanda – dois países predominantemente católicos onde a homossexualidade já foi um tabu – disseram que a resolução irá ajudar a melhorar a difícil situação na qual muitos gays e lésbicas têm que viver.
Cuba e Venezuela, que geralmente votam contra moções apoiadas pelo Ocidente, também apoiaram a medida.
Já a Rússia, que nos últimos anos abandonou sua postura liberal pós-soviética a respeito da homossexualidade e adotou uma visão mais rígida, alinhou-se a países islâmicos e africanos e votou negativamente, enquanto a China se absteve, dizendo que o assunto "causa muitas divisões".
A África do Sul, praticamente a única nação do continente a apoiar os direitos dos gays mas que parecia estar se distanciando dessa posição, surpreendeu alguns delegados votando favoravelmente e dizendo que os homossexuais devem desfrutar de todos os direitos de um cidadão.
Os países que apoiaram a resolução, entre eles os Estados Unidos, afirmaram ser essencial manter o conselho atento ao problema em meio a uma tendência de tornar a homossexualidade ilegal na África.
Na votação desta sexta-feira, a Argélia, com o reforço do Egito, disse que a medida "é uma tentativa de desviar a atenção do conselho de temas importantes sobre a verdadeira discriminação contra pessoas depravadas de todo o mundo".
Um total de sete países se abstiveram, e um esteve ausente.