Paris, 28 nov (EFE).- A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) constatou em seu relatório semestral de perspectivas a recuperação econômica no Brasil, que começou pela agricultura e deverá se generalizar no futuro, mas alertou que a confiança continuará sensível à situação política, com as eleições previstas para o ano que vem.
Com um crescimento de 0,7% este ano (igual ao antecipado em junho) e de 1,9% em 2018 (três décimos a mais que o prognóstico feito há seis meses), a OCDE se manifestou em seu relatório semestral de perspectivas sobre a melhoria prevista no Brasil.
"Após oito trimestres de quedas consecutivas, o crescimento finalmente voltou", afirmou a organização, que também indicou que não é apenas a agricultura a responsável pela melhoria no Produto Interno Bruto (PIB), pois o crescimento está se expandindo para os outros setores econômicos do país e será ainda maior no futuro.
O ambiente parece propicio graças a uma taxa de inflação abaixo da meta do Banco Central, o que repercutiu em uma maior renda real para as famílias.
Isto também permitiu uma redução nas taxas de juros, favorecendo assim a recuperação do investimento, embora os créditos para as empresas continuem baixos.
A OCDE também destacou que os bancos brasileiros estão "bem capitalizados" e previu que os mesmos devem aguentar bem os riscos derivados de uma maior dívida corporativa.
"A profunda e prolongada recessão foi uma prova de resistência significativa para os bancos no mundo real, e não expôs debilidades nas instituições financeiras", ressaltou a organização no relatório.
Para a OCDE, os indicadores revelam uma recuperação gradual, mas que ainda está ameaçada pela incerteza política.
A confiança empresarial está crescendo, assim como as vendas no varejo, o poder aquisitivo e o crédito doméstico, enquanto o desemprego está caindo (em um ponto percentual desde o seu pico de 14% este ano), assim como a inflação (de 11% para menos de 3%).
Para a OCDE, a política fiscal do governo brasileiro acompanhou a recuperação, mas deverá enfrentar um aumento da dívida pública de até 74% do PIB e do déficit público para mais de 9%.
A organização situa a reforma da previdência como o elemento fundamental para garantir a estabilidade das contas públicas, mas considera que também serão necessários "outros ajustes", como uma melhor seleção dos beneficiados pelos programas sociais do governo.
Neste cenário, a OCDE aponta o "fracasso em implementar as reformas necessárias" como o maior perigo para a economia brasileira, algo que ela vincula às eleições previstas para outubro de 2018.
De acordo com essas projeções, a recuperação pode ser ainda maior daqui a dois anos, pois a OCDE prevê um crescimento do 2,3% em 2019.
Já em relação à economia mundial, a organização confirma sua recuperação, com melhorias do PIB de 3,6% em 2017 e 3,7% em 2018, mas não de maneira "sólida e integradora", em um contexto de aumento do endividamento das famílias e das empresas não financeiras.
A economista-chefe da OCDE, Catherine Mann, reconheceu que "há sinais positivos" como o aumento do investimento empresarial, mas que não são firmes o suficiente para prolongar esse crescimento durante 2019, quando está prevista uma desaceleração da economia (3,6%).
"Os governos devem implementar mudanças políticas mais profundas para canalizar investimentos, produtividade e aumentos salariais para alcançar um crescimento mais inclusivo", opinou Mann.
A organização defende medidas como reformas econômicas que facilitem o comércio internacional e que sirvam para reduzir os impostos nas empresas, entre outras.
As perspectivas da OCDE atribuem a melhoria das perspectivas semestrais às políticas de estímulos e lembram que a progressão do PIB não era tão alta desde 2010, depois do início da crise global.
Apesar da melhoria, a OCDE esclarece que ainda não foram alcançados os níveis de renda per capita registrados antes da explosão da crise, em 2008.