Por Bruno Federowski
BRASÍLIA (Reuters) - A greve dos caminhoneiros provavelmente subtraiu quase 1 ponto percentual do crescimento econômico do Brasil neste ano, mostrou pesquisa da Reuters divulgada nesta quinta-feira, mas elevou apenas temporariamente a inflação.
O Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer apenas 1,7 por cento em 2018, de acordo com a mediana de 42 estimativas compiladas pela Reuters entre 17 e 24 de julho, bem abaixo dos 2,5 por cento apurados no levantamento anterior.
As projeções variaram entre 0,2 e 2,8 por cento, sugerindo possível cenário em que o PIB praticamente não cresce neste ano.
Foi a única revisão importante na pesquisa, com todas as outras principais economias da América Latina caminhando para crescer a ritmo semelhante àquele apontado no levantamento de abril.
O Brasil agora deve apresentar crescimento pior que o México pelo quinto ano seguido, contrariando expectativas anteriores de que poderia ultrapassá-lo enquanto se recupera da recessão mais profunda em décadas, vivida em 2015 e 2016.
"Está claro agora que a greve teve um impacto profundo sobre a atividade, tanto diretamente quanto indiretamente, mas um efeito apenas temporário sobre a inflação", disse o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa.
A declaração sugere que economistas estão finalmente chegando a um consenso sobre como exatamente os protestos, que duraram apenas de 21 de maio ao início de junho mas praticamente paralisaram importantes setores corporativos, afetaram a maior economia da América Latina.
Caminhoneiros protestando contra a alta dos preços do diesel bloquearam importantes rodovias no fim de maio, levando fazendeiros a abater milhares de aves e descartar leite. Falta de acesso a insumos fez com que empresas reduzissem sua produção, afetando indicadores como vendas no varejo e produção industrial e a atividade de serviços.
Mas o impacto sobre a atividade econômica perdurou mesmo após o fim da greve e provavelmente vai limitar o crescimento mesmo no ano que vem. A economia brasileira deve expandir 2,5 por cento em 2019, menos do que os 2,7 por cento previstos anteriormente.
O apoio da opinião pública à greve, que levou o governo a adotar custosos subsídios mesmo enquanto tem dificuldades para reequilibrar as contas públicas, levantou dúvidas sobre se o vencedor das eleições presidenciais de outubro vai conseguir estancar o crescimento da dívida pública.
Isso provavelmente levou companhias a adiar investimentos, com medo de que demore mais que o esperado para o Brasil recuperar o grau de investimento.
VAI, MAS VOLTA
A escassez de produtos devido à greve catapultou a inflação, que vinha oscilando abaixo do piso da meta por meses, mas economistas disseram que o salto não deve durar.
"Os impactos (provavelmente) temporários dos choques recentes são mitigados em alguma medida pelo hiato muito negativo e pelas expectativas de inflação ancoradas," escreveram economistas da Nomura em relatório.
Segundo a pesquisa, a inflação deve terminar o ano a 3,8 por cento, apenas um pouco acima da projeção anterior de 3,5 por cento. A mediana das estimativas para 2019 caiu 0,1 ponto percentual, para 4,1 por cento, mantendo-se abaixo do centro da meta do ano que vem.
Esses resultados também ilustram como está diminuindo a incerteza sobre os efeitos dos protestos.
O Banco Central tem repetidamente afirmado que a greve tornou mais difícil separar efeitos de curto prazo e longo prazo e que indicadores para maio e junho desempenhariam um papel importante nessa diferenciação.
Assim, a dispersão das projeções em pesquisas da Reuters sobre inflação disparou imediatamente após a greve, mas assentou desde então, sugerindo que economistas já incorporaram completamente esse choque em seus modelos.