Por Giulia Paravicini e Aaron Ross
NAIRÓBI (Reuters) - O presidente do Quênia desistiu nesta quarta-feira de aumentar os impostos, cedendo à pressão dos manifestantes que invadiram o Parlamento, lançaram atos em todo o país e ameaçaram mais ações nesta semana.
William Ruto disse que não sancionaria um projeto de lei que incluía os aumentos, um dia depois de violentos confrontos entre a polícia e os manifestantes na assembleia e em todo o país, que deixaram pelo menos 23 pessoas mortas e dezenas de feridos, segundo os médicos.
"Ouvindo atentamente o povo do Quênia, que disse em alto e bom som que não quer esse projeto de lei financeiro de 2024, eu cedo. E, portanto, não assinarei o projeto de lei financeiro de 2024 e ele será posteriormente retirado", disse ele em um discurso televisionado.
Ruto afirmou que agora iniciará um diálogo com a juventude queniana, sem entrar em detalhes, e trabalhará em medidas de austeridade - começando com cortes no orçamento da Presidência - para compensar a diferença nas finanças do país.
A medida será vista como uma grande vitória para um movimento de protesto de uma semana que se transformou de condenações online dos aumentos de impostos em manifestações de massa exigindo uma reforma política, na mais grave crise da Presidência de Ruto, que dura dois anos.
Pode afastar a ameaça imediata de mais agitação, mas deixa Ruto ainda preso entre as exigências concorrentes dos seus cidadãos pressionados e de credores como o FMI - que pede ao governo para reduzir o déficit para obter mais financiamento.
Na terça-feira, a polícia abriu fogo contra manifestantes que se aglomeravam em torno do Parlamento e mais tarde invadiram o complexo da assembleia, minutos depois de os parlamentares terem votado a favor das medidas fiscais e as terem enviado ao presidente.
O jornal Nation documentou protestos em pelo menos 35 dos 47 condados do Quênia, desde grandes cidades a zonas rurais - até mesmo na cidade natal de Ruto, Eldoret, no coração da sua etnia Kalenjin.
Pelo menos 23 pessoas foram mortas em todo o país da África Oriental e outras 30 estavam sendo tratadas devido a ferimentos de bala, informou na quarta-feira a Associação Médica do Quênia. Autoridades médicas em Nairóbi disseram que muitos ficaram feridos.
(Reportagem adicional de George Obulutsa, Hereward Holland e Edwin Okoth)