Por Juliana Schincariol
RIO DE JANEIRO (Reuters) - As perspectivas de manutenção no próximo ano de baixa confiança do consumidor, aumento da inflação e desemprego somados ao recuo da economia e à crise política deixam o setor imobiliário vislumbrando alguma recuperação apenas a partir de 2017.
Estimativa da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) aponta que o volume de imóveis residenciais a espera de comprador no Brasil era de 96 mil até o final de setembro, mesmo nível de dezembro de 2014, apesar dos esforços do setor para reduzir esse inventário via corte de lançamentos e promoções ao longo de todo 2015.
Segundo as contas da entidade, o tempo necessário para vender todos estes imóveis encalhados é de 13 meses.
"Não temos ainda uma cenário muito claro para o ano que vem porque o país vive um momento de muita instabilidade política e isso acaba se refletindo na economia", disse o diretor da Abrainc, Luiz Fernando Moura.
Ele, porém, avalia que pode haver algum espaço para recuperação de lançamentos no próximo ano depois de um 2015 inteiro em que o setor se focou em redução de estoques.
Refletindo o pessimismo do setor, nesta terça-feira o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP) estimou que o Produto Interno Bruto (PIB) da construção civil em 2016 vai encolher 5 por cento após retração de 8 por cento este ano.
"A demanda existe, ela está hibernada. Tem muita gente que quer ter um imóvel e tem medo de comprar hoje", disse o vice-presidente do (SindusCon-SP), Odair Senra.
O engenheiro Thiago Trezza Borges está incluído nesta demanda reprimida. Ele adiou novamente a compra de um apartamento no Rio de Janeiro, o que vem fazendo desde 2007, devido aos preços ainda altos, que não se enquadram ao teto do financiamento pela Caixa Econômica Federal.
"Eu preferi guardar o dinheiro que tenho e pagar o aluguel com o rendimento. Dá para juntar mais um pouco", disse ele, que aposta em melhores oportunidades de compra na cidade depois das Olímpiadas no ano que vem.
Apesar da indústria afirmar que não tem mais condições de manter a evolução dos preços dos imóveis em patamares abaixo da inflação, levantamento do portal imobiliário VivaReal aponta para perspectiva de 51 por cento dos compradores de que os valores vão cair em 2016. A pesquisa foi feita em novembro e ouviu 2 mil interessados em compra de imóveis.
"Os preços têm ficado abaixo da inflação, mas não têm caído em termos nominais. Bens mais caros são menos voláteis. A expectativa é que continue na mesma situação... Podem existir promoções, mas tirar ainda mais o preço não é possível", disse o vice-presidente do VivaReal, Lucas Vargas.
Porém, para cerca de 63 por cento dos que acreditam em queda nos preços no próximo ano, a expectativa é que o cenário de crise econômica crie oportunidades para negociações mais vantajosas para a compra de imóveis.
Este ano a indústria recorreu a feirões imobiliários e ações promocionais em várias ocasiões. As ofertas mais agressivas foram além do descontos em dinheiro no preço dos imóveis e chegaram a incluir carro na garagem e apartamento 90 por cento mobiliado.
Mas as promoções e uma queda nominal dos preços não foram suficientes para melhorar os resultados das construtoras e incorporadoras, que vão encerrar o ano com queda nas vendas e lançamentos.
No acumulado do ano até outubro, foram destinados 66,7 bilhões de reais para a aquisição e a construção de imóveis no país, 28,4 por cento a menos que no mesmo período do ano passado, de acordo com dados mais recentes da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário (Abecip). O montante equivale a 301,5 mil unidades, volume 32,6 por cento menor frente ao mesmo período de 2014.