Por Gabriela Mello
SÃO PAULO (Reuters) - Indicadores de vendas de imóveis já sinalizam o aquecimento da demanda no país em um cenário de juros mais baixos, mas a retomada do mercado imobiliário brasileiro ainda esbarra em dificuldades como acesso a crédito e insegurança jurídica, disse à Reuters nesta quarta-feira o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins.
"Nossa leitura é que cliente até tem, o problema é que não tem crédito para as empresas produzirem", afirmou Martins. Na avaliação dele, a postura mais restritiva dos principais bancos para financiamento de obras vem desencorajando os lançamentos.
"Se as empresas não lançam, o estoque diminui e a tendência é os preços subirem... É uma preocupação que temos porque, se o preço subir artificialmente, as pessoas perdem acesso à compra do imóvel", explicou o presidente da Cbic.
Só no primeiro trimestre, a oferta de imóveis residenciais novos encolheu 14,8 por cento ante igual intervalo de 2017, para 123.055 unidades, mostrou um levantamento da entidade. "É um estoque razoável, suficiente para 15 meses de demanda, mas no fim do ano passado a oferta equivalia a mais de 20 meses", alertou Martins.
De janeiro a março, as vendas de moradias novas cresceram 22,3 por cento ano a ano, mas os lançamentos recuaram 30,7 por cento na mesma base comparativa, segundo a pesquisa da Cbic.
Os números ficam em linha com os dados operacionais mais recentes das principais companhias do setor.
Maior construtora de imóveis econômicos do país, a MRV (SA:MRVE3) teve alta de 14 por cento nas vendas contratadas e queda de 34 por cento nos lançamentos no primeiro trimestre.
Já a Cyrela (SA:CYRE3), líder no segmento de médio e alto padrão, vendeu 18 por cento mais e lançou 29 por cento menos nos três primeiros meses do ano.
O descasamento entre o ritmo de unidades vendidas e lançadas já se reflete na estabilidade dos preços em algumas regiões do país. Em abril, o valor médio do metro quadrado residencial para venda em 20 cidades brasileiras teve variação negativa de apenas 0,01 por cento sobre março, para 7.546 reais, de acordo com o índice FipeZap, elaborado com base em anúncios da Internet. Enquanto isso, o preço do aluguel subiu pelo quinto mês seguido.
Oito dos 20 municípios avaliados registraram aumento nominal de preços de venda, com destaque para São Caetano do Sul (+0,45 por cento), Belo Horizonte (+0,41 por cento) e Vila Velha (+0,30 por cento).
PIB DA CONSTRUÇÃO
A atividade da construção civil no Brasil entre janeiro e março enfraqueceu pelo 16º trimestre consecutivo, com o Produto Interno Bruto (PIB) do setor caindo 2,2 por cento sobre igual período de 2017 e 0,6 por cento ante o quarto trimestre do ano passado.
"Nosso setor está no seu limite. O investimento acabou, as empresas não têm acesso ao crédito, é grande a insegurança jurídica e ainda estamos lidando com incertezas como o preço do asfalto”, disse Martins, da Cbic, referindo-se à política de preços da Petrobras (SA:PETR4) para materiais asfálticos.
Outro ponto fundamental, segundo ele, para a retomada dos investimentos na indústria de construção é a regulamentação dos distratos. Representantes do governo, do setor e entidades de defesa do consumidor negociam há meses a implementação de regras para o cancelamento de vendas, mas a questão segue em aberto em meio às instabilidades no cenário político.