Por Aluisio Alves
SÃO PAULO (Reuters) - A redução das alíquotas dos recursos que os bancos são obrigados a recolher aos cofres do Banco Central terá efeito limitado na tentativa de fazer o sistema baratear a oferta de crédito, disseram economistas à Reuters.
"A demanda por crédito ainda está fraca, especialmente por parte das empresas, e dificilmente haverá uma mudança muito grande mesmo com um eventual barateamento das taxas", disse o economista-chefe do Banco Votorantim, Roberto Padovani.
O Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou nesta quinta-feira resolução do BC para reduzir a alíquota do depósito a vista, de 40 para 25 por cento. A alíquota da poupança rural recua de 21 para 20 por cento e nas demais modalidades de poupança, a alíquota sai de 24,5 para 20 por cento.
O BC calculou que a medida deve liberar para o sistema cerca de 26 bilhões de reais.
Um economista ligado aos grandes bancos também afirmou, sob condição de anonimato, que o impacto da medida será limitado, já que libera o equivalente a apenas 5 por cento do total de compulsórios.
"Adicionalmente, o sistema hoje está bastante líquido, sem problema para ofertar crédito", afirmou.
O juro básico da economia, Selic, vem caindo às mínimas da história, enquanto o país começa a sair de sua maior recessão. Na semana passada, o BC reduziu a taxa para 6,5 por cento ao ano e indicou que pode cortá-la novamente em maio.
Ainda assim, a autoridade monetária divulgou nessa semana que os juros médios no segmento de recursos livres subiram de 41,1 para 42,2 por cento entre janeiro e fevereiro. E o spread — a diferença entre o custo de captação e a taxa cobrada pelos bancos do consumidor — subiu de 32,9 pontos a 34,1 pontos percentuais no mesmo período.
Segundo um executivo de um grande banco privado do país, o que o BC fez foi um tentativa de "vitaminar" o efeito do corte da Selic, uma vez que essa via do afrouxamento monetário parece não estar sendo suficiente para acelerar a economia.
"Como a inflação está muito baixa, o risco potencial do aumento do volume de moeda em circulação é calculado", disse essa fonte. "Mesmo que os bancos não transformem esse maior volume de recursos em crédito, o BC pode tirar o excesso de circulação remunerando-o a custo hoje baixo", completou.
Para Padovani, mais do que o simples estímulo monetário, o BC pode estar aproveitando o momento para alinhar a política de compulsórios aos níveis internacionais.
"Há muito tempo há um entendimento de economistas de que as exigências de compulsórios no Brasil são uma distorção; mas o BC não poderia ajustar isso num momento de alta atividade econômica", disse o economista do Banco Votorantim. "Fez isso agora que a inflação e a atividade econômica estão baixos, e não havia momento melhor para fazer."