Paris, 1 out (EFE).-A fusão entre o consórcio europeu EADS, que controla a Airbus, e o britânico BAE Systems, uma operação que pode originar a maior empresa aeroespacial e de defesa do mundo, está ameaçada por conta da negativa do principal acionista privado francês, Lagardère, que a considerou "insuficiente", segundo comunicado divulgado nesta segunda-feira.
O grupo investidor francês solicitou aos líderes da EADS e da BAE Systems que revisem o projeto de fusão, revelado no último dia 12, para preservar melhor os interesses dos atuais acionistas franceses.
"Esse projeto, além de representar um potencial industrial e estratégico, não demonstrou até agora que seja criador de valor para EADS", explicou Lagardère.
Dona de 7,5% das ações do consórcio europeu e que, conjuntamente com o estado francês, administra 22,5% de seu capital, a Lagardèle esfria um projeto de união impulsionado por dirigentes da EADS e da BAE Systems.
O presidente da Lagardèle, Arnaud Lagardèle, está, além disso, à frente do Conselho de Administração da EADS.
A atitude do principal acionista privado francês do consórcio representa um novo golpe para o projeto, que está sendo examinado de perto pelos governos da França, Alemanha e Reino Unido, muito preocupados com uma operação que afeta setores sensíveis como a aeronáutica, a defesa e a indústria espacial.
O projeto de fusão prevê que Berlim, Paris e Londres tenham direito de bloqueio para entrada de qualquer acionista acima de 15% do capital do novo grupo.
Além disso, está sendo estudada uma forma na qual Washington, um dos principais clientes da nova entidade - em particular, graças aos contratos da BAE Systems com o Pentágono - possa ter influência no novo grupo.
A imprensa alemã publicou que a França e a Alemanha acordaram atuar em comum acordo frente à fusão e, segundo alguns meios de imprensa, devem controlar 9% cada um.
Os dois países reivindicaram também um direito de preferência de compras das ações da Lagardèle e da Daimler.
Atualmente, a França controla de forma direta 15% do capital da EADS, enquanto a parte alemã, outros 22,5%, está nas mãos da Daimler e de um consórcio de bancos. A Sociedade Espanhola de Participações Industriais (Sepi) tem 5,44% do capital.
O grupo militar e aeronáutico está sujeito a um pacto de acionistas que outorga franceses e alemães a terem um domínio da entidade de maneira equilibrada.
Frente aos interesses estaduais, os presidentes da EADS, Tom Enders, e da BAE System, Ian King, publicaram que defendem os benefícios da fusão em vários jornais e propuseram limitar a influência dos estados para que a nova entidade possa operar de forma clássica nos mercados.
"Propusemos substituir os acordos entre acionistas que atualmente a Daimler, Lagardèle e o estado francês um controle conjunto da EADS", disseram os dirigentes.
Eles querem criar uma empresa cujas estruturas do governo permitam operar normalmente no mercado e que dê os mesmo direitos a todos os acionistas.
Para Enders e King, a fusão "é uma oportunidade que é preciso aproveitar e não uma necessidade".
"Chegou o momento de aproveitar as oportunidades a fim de construir algo maior e mais forte. Estamos convencidos de que esse momento chegou", disseram os presidentes, que consideram que a fusão seria "um conjunto mais importante que a soma dos dois grupos".
Juntos, EADS e BAE teriam uma clientela mais ampla e "poderiam seguir melhor os ciclos da demanda da aviação civil e da defesa". Além disso, teriam mais margem de investimento em pesquisa e desenvolvimento, o que constituiria "um motor de crescimento e um adicional frente à concorrência".
Segundo diversas estimativas, o novo conglomerado se transformaria no líder mundial do setor, à frente do americano Boeing, com um faturamento de 73 bilhões de euros e mais de 225 mil empregados. EFE