Por Maria Tsvetkova e Gleb Stolyarov e Jonathan Saul
LONDRES (Reuters) - A Alexandr Tkachenko, uma envelhecida barca de casco amarelo-canário, geralmente transporta pessoas pelo Estreito de Kerch, uma rota marítima movimentada e única conexão entre a Rússia e a Crimeia, península ucraniana que a Rússia anexou no ano passado.
Mas os cruzamentos pararam abruptamente no final de agosto, quando o governo russo fretou a embarcação, de acordo com um funcionário da empresa de barcas. O barco foi destinado a outra missão, possivelmente de maior importância estratégica –expandir a linha de suprimentos da Rússia para as áreas sob controle do presidente sírio, Bashar al-Assad.
Em 11 de setembro –quando emergiam relatos de aumento da atividade militar russa na Síria– a barca atracou no porto sírio de Tartus, de acordo com dados marítimos, uma área ainda controlada por Assad e onde a Rússia arrenda uma base naval. No trajeto, tinha parado diante do porto russo de Novorossisk, no Mar Negro, onde levou a bordo caminhões pintados de branco, disse uma fonte do porto.
A jornada do navio –traçada com base em registros de chegadas portuárias, dados da Reuters e informações obtidas de uma fonte de inteligência marítima– é parte de um forte aumento no tráfego marítimo entre a Rússia e a Síria, onde o governo de Assad, aliado dos russos, tem sofrido duros reveses em sua luta para se manter no poder.
A Reuters não pôde confirmar o que estava nos caminhões ou se deixaram o navio em Tartous.
O Ministério da Defesa russo não respondeu às perguntas por escrito da Reuters sobre se havia fretado o navio. O ministério russo de Emergências, que supervisiona a ajuda externa e humanitária, disse que nada sabia sobre o embarque.
Autoridades dos EUA e fontes militares e rebeldes na Síria dizem que o Exército russo tem aumentado a sua presença em áreas controladas por Assad. O governo norte-americano sugeriu que a Rússia possa estar preparando um aeródromo perto da cidade portuária de Latakia, um reduto de Assad, ao norte de Tartus.
Embora o Kremlin não tenha reconhecido a ampliação da presença militar, os dados de localização de navios publicamente disponíveis mostram aumento no tráfego marítimo entre os dois países, mais viagens do que pode ser explicado pelo padrão usual de comércio entre os dois países.
(Reportagem adicional de Polina Devitt, Daria Korsunskaya)