SÃO PAULO (Reuters) - O Tesouro Nacional reduziu de quinze dias para uma semana o intervalo entre os leilões de venda de NTN-F no ano que vem, para ter mais flexibilidade na oferta de títulos prefixados num ano que será marcado pelas eleições presidenciais, de acordo com o calendário de leilões publicado nesta sexta-feira.
Segundo o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Leandro Secunho, a maior frequência dos leilões não significa um volume maior de dívida sendo emitido nestes papéis, mas sim uma diluição do total que já seria ofertado.
"Eleições são sem dúvidas uma das preocupações, cenário externo também. Existe toda a agenda política de aprovação da reforma da Previdência e de outras medidas que o governo precisa aprovar", destacou ele.
As NTN-F são os títulos com prazos mais longos e forte participação de estrangeiros.
"(A decisão) é também baseada no que observamos em 2017. Embora tenha sido muito positivo para colocação desse tipo de título, houve algumas situações em que no dia do leilão quinzenal de NTN-F o mercado não estava propenso para venda daqueles títulos. Então o Tesouro reduzia a colocação e acabava ficando um intervalo para aproximadamente um mês com pouca venda desses títulos", justificou Secunho.
O último ano com oferta semanal de NTN-F foi 2010, com os leilões passando a ser quinzenais de 2011 em diante.
Com a mudança de agora, o Tesouro na prática abrirá mão de fomentar o mercado secundário dos papéis para ter maior flexibilidade de colocá-los.
Numa outra alteração para 2018, o Tesouro também deixará de fazer leilões trimestrais de recompra de NTN-F e NTN-B. Nesse caso, a justificativa é que o governo não quer "ficar amarrado" às datas. Caso seja necessário e conforme forem as condições de mercado, o Tesouro poderá fazer esses leilões a qualquer momento.
Neste ano, o Tesouro atuou de maneira extraordinária no mercado após a intensa crise gerada pelas delações de executivos do grupo J&F e que atingiram em cheio o presidente Michel Temer.
PAPÉIS MAIS LONGOS
Seguindo a estratégia de alongamento da dívida pública por meio de seus leilões de títulos regulares, o Tesouro também substituirá alguns papéis atualmente ofertados por outros com prazos mais longos.
No primeiro semestre, os títulos novos serão as LTN com vencimento em abril de 2020 e LTN com vencimento em janeiro de 2022.
Quanto às NTN-F, serão ofertados títulos com vencimento em janeiro de 2029 no lugar dos papéis com vencimento em janeiro de 2027.
Analistas consultados pela Reuters já previam que o Tesouro manteria essa toada, a despeito das eleições em 2018 e da continuidade dos desafios fiscais. Isso porque, argumentaram, outros fatores econômicos estavam positivos, como os juros e a inflação baixa.
(Por Marcela Ayres)