Por Richard Cowan e Susan Cornwell
WASHINGTON (Reuters) - A Câmara dos Deputados dos Estados Unidos votou nesta terça-feira para condenar o presidente dos EUA, Donald Trump, por atacar racialmente quatro deputadas democratas pertencentes a minorias, em uma votação simbólica que visa constranger o presidente e seus colegas republicanos que ficaram com ele nesta questão.
Quatro republicanos se juntaram a todos os democratas na Câmara e um deputado independente para repreender o presidente pela série de tuítes que publicou no domingo, nos quais ele disse a um grupo de deputadas para "irem para casa e ajudarem a consertar os lugares completamente quebrados e infestados de crime de onde vieram".
Mais cedo, Trump pressionou seus correligionário do Partido Republicano na Câmara dos Deputados a ficarem a seu lado e votarem contra a condenação.
A aprovação da condenação era esperada, já que os democratas têm a maioria na Câmara. Mas eram os parlamentares republicanos que estavam sob os holofotes conforme tinham de escolher entre votar contra o líder de seu partido, que tem um forte apoio dos mais conservadores, ou defendê-lo das acusações.
A indignação diante do ataque de Trump no Twitter roubou a atenção de todos os demais assuntos em Washington.
As quatro deputadas são cidadãs dos Estados Unidos e três delas nasceram no país.
"Esses comentários da Casa Branca são uma desgraça, nojentos, e são comentários racistas", disse a presidente da Câmara, Nancy Pelosi, em sessão na Casa Legislativa.
Republicanos protestaram contra os comentários de Pelosi dizendo que ela quebrou as regras de debate da Câmara, o que levou a demoradas discussões entre os parlamentares.
Poucos deputados republicanos se pronunciaram contra as publicações de Trump sobre as deputadas --Alexandria Ocasio-Cortez, Ilhan Omar, Ayanna Pressley, e Rashida Tlaib-- e suas críticas foram abafadas.
A liderança republicana na Câmara recomendou que seus membros votassem contra a resolução, que diz que a Câmara "fortemente condena os comentários racistas do presidente Donald Trump que legitimaram e aumentaram o medo e o ódio contra novos americanos e 'pessoas de cor'".
"É tudo política", disse o líder republicano na Câmara, Kevin McCarthy, a jornalistas. Trump depois republicou os comentários de McCarthy e agradeceu a ele.
Trump tem um histórico do que críticos apontam como a promoção de polêmicas ligadas a questões raciais.
O republicano liderou um movimento que afirmava falsamente que o ex-presidente Barack Obama não era nascido nos Estados Unidos e afirmou após um comício liderado por supremacistas brancos em Charlottesville, na Virgínia, que havia "pessoas boas de ambos os lados" do incidente, que teve uma morte e dezenas de feridos.
Na terça-feira, o líder republicano do Senado, Mitch McConnell, disse a jornalistas que achava que "todos deveriam atenuar seus discursos" para se focar em temas, mas não chegou a condenar os comentários de Trump.
"O presidente não é um racista e eu acho que o tom de tudo isso não é bom para o país, mas está vindo de todos os diferentes pontos de vista ideológicos", disse McConnell.
Os ataques de Trump às quatro deputadas progressistas --conhecidas como "o esquadrão"-- têm sido vistos como uma iniciativa para dividir os democratas, que conquistaram a maioria na Câmara em 2018 e detêm o poder de frustrar sua agenda legislativa.
Mais cedo, Trump alertou no Twitter para que os parlamentares republicanos não votassem contra ele. "Aqueles tuítes NÃO foram racistas. Eu não tenho sequer um osso racista no meu corpo! A chamada votação que acontecerá é um jogo de enganação dos democratas. Republicanos não deveriam mostrar 'fraqueza' e cair nessa armadilha."
Em resposta, Ocasio-Cortez publicou: "Você está certo, sr. presidente. Você não tem sequer um osso racista no seu corpo. Você tem uma mente racista na sua cabeça, e um coração racista no seu peito."