Madri, 4 jul (EFE).- O primeiro-ministro português, José
Sócrates, disse que o bloqueio da venda da Vivo à Telefónica "não
viola" os direitos de ninguém e que as críticas da Comissão Europeia
ao veto se devem às posições "ultraliberais" frente aos Estados.
Sócrates, em nome do interesse geral de seu país, usou a "ação de
ouro" que o Estado português tem na Portugal Telecom (PT) para
impedir a venda da brasileira Vivo à Telefónica.
Em entrevista publicada hoje no jornal espanhol "El País", o
primeiro-ministro afirma que não foram lesados "os direitos de
ninguém" com esta decisão de bloqueio, que é consequência da falta
de negociação da Telefónica com a direção da PT.
Segundo lembra, os direitos especiais que tem o Estado português,
com 500 ações, são resultado de uma decisão aprovada há 15 anos
pelos acionistas da Portugal Telecom quando foi privatizada.
"Nunca pensei que usaria os direitos especiais, porque sempre
confiei que a Telefónica teria bom senso de considerar os interesses
estratégicos e de negociar com a administração da PT", reconhece
Sócrates.
Sobre o que vai ocorrer se em 8 de julho o Tribunal Europeu de
Justiça opinar contra a "ação de ouro" na PT, Sócrates respondeu que
não "antecipa cenários".
Detalhou, no entanto, que a Telefónica "não tem o direito natural
de assumir o controle de Vivo".
Com relação à oferta da Telefónica - de 7,150 bilhões de euros
(US$ 8,790 bilhões) e que representa quase o valor da PT em Bolsa -,
se essa tivesse permitido a Portugal Telecom buscar outras
alternativas de desenvolvimento, afirmou que desconhece porque
"ninguém" apresentou a ele "um plano nesse sentido", mas acrescenta
que a proposta não compensa a venda.
Apesar de 74% dos acionistas da PT terem apoiado a oferta da
Telefónica, Sócrates destaca que não teme a solidão na hora de tomar
decisões, porque um primeiro-ministro não pode deixar-se encurralar.
Nenhum Governo gosta que lhe dobrem o braço.
O premiê considera que esta polêmica não afeta suas relações com
o presidente do Governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, com
quem diz ter falado após o veto. EFE