Por Marcelo Rochabrun
LIMA (Reuters) - Desde 2011, os peruanos viveram sob o comando de sete presidentes e viram quatro ex-líderes detidos ou procurados por acusações de corrupção. No entanto, no mesmo período, o Peru manteve o título improvável de economia que mais cresce na América Latina.
Esse período de crescimento destacado deve terminar este ano, mostra uma análise de dados do Banco Mundial e previsões do Fundo Monetário Internacional, com a Colômbia ultrapassando o Peru.
A desaceleração do crescimento do segundo produtor de cobre do mundo ressalta uma verdade dolorosa: a economia do Peru está finalmente começando a ruir após anos de crises políticas cada vez mais perturbadoras que atingiram o ápice sob o presidente Pedro Castillo e um Congresso combativo, prejudicando tanto o investimento público quanto o privado.
As pressões econômicas globais, como a inflação provocada pela pandemia, atingiram duramente a América Latina, mas o clima ficou particularmente azedo no Peru. A confiança dos investidores está mais baixa do que durante a Grande Recessão e se aproxima do recorde negativo da pandemia, embora o desempenho das empresas continue melhorando, mostram pesquisas mensais do banco central do Peru analisadas pela Reuters.
"Acho que não há outra opção a não ser que o governo está afetando as expectativas (econômicas) porque as empresas estão indo bem", disse Pedro Francke, o primeiro ministro das Finanças de Castillo, que renunciou neste ano.
Castillo assumiu o cargo em julho do ano passado, assustando investidores durante a campanha com um plano para redistribuir radicalmente a riqueza do país e reformular a Constituição. Mas acabou entregando a economia a autoridades financeiras mais moderadas e não aprovou nenhuma reforma econômica significativa.
Seu governo e associados próximos enfrentam agora escândalos. O próprio Castillo está diante de seis investigações criminais, uma delas por suposta obstrução da justiça na demissão de um ministro. O Congresso já tentou seu impeachment duas vezes, mas não conseguiu destitui-lo.
Embora o Peru esteja acostumado à turbulência e em 2020 passou por três presidentes em nove dias, analistas de mercado dizem que a economia do país está finalmente enfrentando o que pode ser um teste intransponível.
"A política e a economia não podem mais ser tratadas separadamente no Peru", disse a Fitch em um relatório nesta semana.
O Ministério das Finanças peruano se recusou a comentar.
O Peru deve permanecer entre as economias de melhor desempenho da América Latina, de acordo com o Fundo Monetário Internacional. Enquanto isso, Moody's, Fitch e S&P disseram à Reuters que não veem riscos iminentes de um rebaixamento para o grau de investimento do Peru.
As maiores empresas do Peru, incluindo o banco Credicorp e a mineradora Sociedad Minera Cerro Verde, apresentaram balanços sólidos até agora neste ano.
Ainda assim, o Ministério das Finanças do Peru deve reduzir sua expectativa de crescimento de 3,6% para 2022 neste mês, de acordo com o recém-nomeado ministro das Finanças Kurt Burneo, que primeiro sugeriu que a nova previsão pode chegar a 2,2%, mas desde então foi mais otimista.
(Reportagem de Marcelo Rochabrun)