Por Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central subiu a Selic em 1,0 ponto percentual nesta quarta-feira, a 12,75% ao ano, em linha com o esperado pelo mercado, e disse ser provável uma extensão do ciclo de alta dos juros com um ajuste de menor magnitude na próxima reunião, em junho, sem especificar se esse seria o último aumento da taxa.
"O Comitê nota que a elevada incerteza da atual conjuntura, além do estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos ainda por serem observados, demandam cautela adicional em sua atuação", afirmou o comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) da autarquia.
A magnitude da elevação foi ao encontro de expectativa unânime do mercado, de acordo com pesquisa Reuters com 32 economistas.
Com a decisão, que teve apoio unânime do colegiado, o BC levou a Selic a um patamar 10,75 pontos acima da mínima histórica de 2%, atingida em meio à pandemia e que vigorou até março do ano passado, numa tentativa de recolocar a inflação nos trilhos em meio ao avanço de preços na economia.
Esta foi a décima elevação consecutiva da Selic, que agora atinge o nível mais alto desde janeiro de 2017, quando estava em 13,00% ao ano.
O documento do BC afirma que o ambiente externo seguiu se deteriorando desde a reunião de março, com intensificação da inflação diante de nova onda de Covid-19 na China e a guerra na Ucrânia, além do aumento de incertezas relacionadas à política monetária em economias avançadas.
Entre os riscos de alta para a inflação, o BC citou uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e a incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do Brasil, parcialmente incorporada nas expectativas de inflação e nos preços de ativos.
No sentido oposto, o Copom avaliou que, entre os riscos de baixa para a inflação, está mantida a previsão de uma possível reversão do aumento nos preços de commodities, além de uma desaceleração da atividade econômica mais forte do que a projetada.
O BC enfatizou novamente que diante de suas projeções e do risco de desancoragem das expectativas para prazos mais longos, é apropriado que o ciclo de aperto monetário continue avançando significativamente em território ainda mais contracionista.
A autarquia ressaltou que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar a convergência da inflação para as metas.
O comunicado do Copom era aguardado pelo mercado, com foco na sinalização para os próximos passos da política monetária diante de novas pressões inflacionárias desde a última reunião do Copom.
Na avaliação do economista-chefe da XP (SA:XPBR31), Caio Megale, o comunicado foi um pouco mais duro do que o esperado ao não deixar claro se o ciclo de aperto monetário será encerrado na próxima reunião.
"Deixa porta aberta para um ajuste um pouco mais intenso e talvez um pouco mais longo", afirmou, projetando uma taxa terminal da Selic em 13,75% ao ano.
O economista da Guide Investimentos Victor Beyruti afirmou que a decisão foi em linha com o esperado, diante da manutenção de nível de inflação elevada e disseminada.
"Acreditamos que o novo ajuste deve vir em 0,5 ponto percentual, encerrando com Selic em 13,25% ao ano", disse.
No encontro de março, o BC aumentou a Selic em 1,0 ponto e indicou que faria novo ajuste da mesma magnitude em maio, ressaltando que poderia ajustar a intensidade do aperto se o cenário evoluísse desfavoravelmente.
No fim de março, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que era provável o fim do ciclo de altas da Selic em 12,75% ao ano em maio, ponderando que essa decisão poderia ser repensada se necessário.
A partir de então, novos elementos surgiram no cenário e o próprio Campos Neto afirmou, duas semanas depois, ter havido surpresa nos dados de inflação registrados em março. Na ocasião, ele disse que o BC estava avaliando as razões para essas surpresas e que se pronunciaria no momento mais apropriado.
Contrariando a previsão de Campos Neto de que o pico de 12 meses do IPCA seria de 11% em abril, o IBGE informou na semana passada que os preços dos combustíveis seguiram em forte alta e levaram o IPCA-15 a registrar o maior avanço para meses de abril em quase 30 anos, ultrapassando os 12%.
PROJEÇÕES PARA INFLAÇÃO
O mercado vem revisando para cima suas projeções de inflação. Segundo as estimativas captadas pelo BC no boletim Focus, que deixou de ser divulgado por um mês por causa da greve de servidores do BC, a expectativa para o IPCA em 2022 passou de 7,65% no levantamento da semana passada para 7,89% no boletim desta semana, distanciando-se ainda mais da meta de 3,50% (com tolerância de 1,5 ponto). Para 2023, a previsão passou de 4,00% para 4,10%, acima da meta de 3,25%.
O comunicado desta quarta reforçou que a alta de preços ao consumidor seguiu surpreendendo negativamente, inclusive nos itens associados à inflação subjacente, que exclui componentes mais voláteis.
O BC elevou sua projeção para o IPCA em 2022 de 6,3% para 7,3%, e de 3,1% para 3,4% em 2023, em um cenário que considera uma trajetória para o barril de petróleo próxima à estimada pelo mercado, chegando ao final deste ano em 100 dólares.
No Copom anterior, de março, esse cenário foi apresentado como alternativo e o colegiado também apresentou um cenário de referência, que apontava para uma inflação mais elevada. Desta vez, o BC apresentou um único cenário, e ressaltou que ele também considera a hipótese de bandeira tarifária de energia "amarela" em dezembro de 2022 e dezembro de 2023.
Como as decisões de política monetária têm impacto na economia de maneira defasada, a diretoria do BC já havia afirmado que a partir da reunião do Copom em maio as movimentações na Selic seriam focadas no combate à inflação de 2023.
O comunicado confirmou essa avaliação, deixando de dizer que o horizonte relevante da política monetária engloba o ano de 2022.
"O Comitê entende que essa decisão reflete a incerteza ao redor de seus cenários e um balanço de riscos com variância ainda maior do que a usual para a inflação prospectiva, e é compatível com a convergência da inflação para as metas ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano-calendário de 2023", disse.