Por Doina Chiacu e Pete Schroeder
WASHINGTON (Reuters) - Dois tiroteios que mataram 30 pessoas no Texas e Ohio inflamaram a discussão política nos Estados Unidos neste domingo, com candidatos à presidência pelo Partido Demorata pedindo leis mais severas para controle de armas e acusando o presidente Donald Trump de alimentar tensões raciais.
O tiroteio em El Paso, Texas, reverberou na campanha eleitoral para a eleição presidencial do ano que vem, e a maioria dos candidatos democratas pediu repetidas vezes por medidas mais rigorosas de controle de armas.
Eles estabeleceram conexões entre os casos de violência e o ressurgimento do nacionalismo branco e da política xenofóbica nos Estados Unidos.
Vários candidatos ao pleito em 2020 disseram que Trump é indiretamente culpado.
"Donald Trump é responsável por isso. Ele é responsável porque está alimentando medos, ódio e fanatismo", disse o senador americano Cory Booker ao programa "State of the Union" da CNN.
O presidente republicano chamou o tiroteio de El Paso de um "ato de ódio" e "de covardia".
Neste domingo, ele garantiu que as autoridades federais e locais estão trabalhando juntas na investigação dos dois ataques.
No primeiro massacre, na manhã de sábado na cidade de El Paso, na fronteira com o México, um homem matou 20 pessoas em uma unidade do Walmart antes de se entregar à polícia.
No segundo atentado a tiros dos EUA em menos de um dia, outro homem abriu fogo no centro de Dayton, Ohio, matando nove pessoas, incluindo sua irmã e ferindo outros 27, segundo autoridades. O agressor foi morto a tiros pela polícia.
O chefe de Gabinete interino da Casa Branca, Mick Mulvaney, rebateu as alegações dos democratas e atribuiu os tiroteios a indivíduos "doentes".
"Não há nenhum benefício aqui em tentar fazer disso uma questão política. Essa é uma questão social e precisamos abordá-la dessa forma", disse ele neste domingo no programa "This Week", da ABC.
Tratou-se de uma questão pessoal para Beto O'Rourke, o ex-congressista que retornou a El Paso após o ataque em sua cidade natal. Perguntado na CNN se ele acreditava que Trump era um nacionalista branco, ele respondeu: "Sim, eu acredito".
"Vamos ser muito claros sobre o que está causando isso e quem é o presidente", disse O'Rourke. "Ele é aberta e declaradamente racista e está encorajando mais racismo neste país".
O senador dos EUA, Bernie Sanders, disse mais tarde à CNN que concordava que Trump era um nacionalista branco.
"Não me agrada dizer isso, mas acho que todas as evidências sugerem que temos um presidente racista, um xenófobo que apela e está tentando apelar para o nacionalismo branco", disse Sanders na CNN.
Uma característica da presidência de Trump tem sido sua determinação em conter a imigração ilegal. Trump recebeu críticas por comentários que depreciavam os imigrantes mexicanos, referindo-se à enxurrada de imigrantes que tentam entrar pela fronteira ao sul dos EUA como uma "invasão".
Nas últimas semanas, os críticos também acusaram Trump de racismo após seus ataques a membros do Congresso que são de minorias raciais ou étnicas. Trump negou ser racista.
Trump não fez uma declaração pública sobre o tiroteio além de posts no Twitter expressando pesar pelas vítimas.
A Casa Branca não pode se esquivar de sua responsabilidade de moldar o discurso público, disse o prefeito Pete Buttigieg, de South Bend, Indiana. "Não há dúvida de que o nacionalismo branco é tolerado nos níveis mais altos de nosso governo", disse ele ao "Fox News Sunday".
A senadora Kamala Harris e político democrata Julian Castro acusaram Trump de usar o poderoso microfone da Casa Branca para semear a divisão.
"Ele falou sobre imigrantes como sendo invasores. Ele deu licença para essa bebida tóxica da supremacia branca apodrecer mais e mais neste país, e estamos vendo os resultados disso", disse Castro, que é ex-prefeito da cidade de San Antonio, à ABC.
Enquanto as autoridades ainda investigavam o motivo do atirador de El Paso, o governador do Texas, Greg Abbott, disse que o ato aparentava ser um crime de ódio.
O chefe da polícia, Greg Allen, disse que um "manifesto" que se acredita ser do suspeito indicou "potencial nexo com um crime de ódio".
O manifesto chamava o ataque do Walmart de "uma resposta à invasão hispânica do Texas", e também expressava apoio ao atirador que matou 51 pessoas em duas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia, em março.