Por Lisandra Paraguassu
BENTO GONÇALVES (Reuters) - Unidos por serem alvos do presidente americano Donald Trump, que decidiu aumentar as tarifas de importação de aço e alumínio contra Argentina e Brasil, negociadores dos dois países irão aproveitar a Cúpula do Mercosul para tentar ensaiar uma ação coordenada de resposta aos Estados Unidos, mesmo com o atual presidente argentino, Maurício Macri, prestes a deixar o cargo.
Uma reunião entre os diplomatas e negociadores econômicos dos dois governos deve acontecer nesta quarta-feira para repassar a agenda conjunta dos dois países e incluirá as novas taxas americanas, confirmou à Reuters o embaixador Pedro Miguel da Costa e Silva, Secretário de Negociações Bilaterais e Regionais nas Américas do Itamaraty.
"No meu nível de coordenação já trocamos algumas impressões, mas vamos ter sim uma reunião com os Argentinos para tratar de vários temas, inclusive esse", disse.
Na segunda-feira, Trump anunciou pelo Twitter que iria retomar as taxas contra Brasil e Argentina e acusou os dois países de desvalorizarem artificialmente suas moedas para melhorarem a competitividade no mercado internacional, o que não é verdade em nenhum dos dois casos.
Um experiente diplomata disse à Reuters que esse seria o momento de Argentina e Brasil trabalharem de fato em conjunto para responder ao presidente americano. No entanto, com Macri deixando o governo e seu sucessor, Alberto Fernandéz, visto com desconfiança pelo presidente Jair Bolsonaro, essa coordenação pode não ir adiante.
ACORDOS
Dois dias antes da chegada dos presidentes, os negociadores do Mercosul correm para fechar acordos que demonstrem quem, apesar do momento de transição em que a Cúpula ocorre, o encontro não está esvaziado.
"Eu estou bem satisfeito, acho que vamos conseguir apresentar um resultado bastante interessante nos acordos", disse Costa e Silva.
A Cúpula não vai conseguir avançar no principal ponto de interesse do Brasil, como mostrou a Reuters, que é a redução da Tarifa Externa Comum (TEC), que terá de esperar que o novo governo argentino - mais resistente às mudanças - sente à mesa.
Duas medidas já foram fechadas. Um deles, o de reconhecimento de indicação geográfica, que dará a produtos como por exemplo o queijo da serra da canastras ou o café do cerrado, no Brasil, um selo de garantia contra o uso do nome indevidamente por outros países.
O outro acordo, de facilitação de comércio, vinha sendo esperado há algum tempo, e prevê a simplificação de trâmites aduaneiros. Entre outros pontos, está a eliminação de taxas cobradas para a expedição de documentos de exportação, além da diminuição da burocracia. A expectativa é de uma economia de 500 milhões de dólares por ano para os exportadores brasileiros apenas com a isenção de taxas.
O Brasil ainda tenta fechar, paralelamente ao Mercosul, o acordo bilateral automotivo com o Paraguai para tentar anunciá-lo até quinta-feira, mas até a noite desta terça detalhes ainda emperravam o texto final.