Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) -O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira que eventual alteração da meta fiscal pelo governo gerará incerteza e a possibilidade de interpretação de que o objetivo foi abandonado.
Os comentários de Campos Neto surgem em um momento em que, internamente, o governo discute a possibilidade de mudar a meta fiscal para 2024, de resultado primário zero, em função das dificuldades na arrecadação.
Na terça-feira, fontes afirmaram à Reuters que o governo manterá, ao menos por enquanto, a busca pelo déficit zero para dar tempo ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de negociar a aprovação de medidas que ampliam a arrecadação, numa tentativa de evitar uma mudança.
"Mudar a meta fiscal agora gerará muita incerteza", comentou Campos Neto em Nova York. "Se você não tiver um alvo, as pessoas podem interpretar que sua meta fiscal foi abandonada", acrescentou.
Para ele, o custo da mudança da meta atenua eventuais benefícios da alteração.
Campos Neto afirmou ainda que não há uma relação "mecânica" entre a alta dos gastos do governo e a política monetária.
"A questão é: gastar mais significa o quê?", pontuou.
Na ata do último encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada na terça-feira, o BC já havia alertado para a elevação do risco fiscal em função das dúvidas em torno da meta.
"No período mais recente, cresceu a incerteza em torno da própria meta estabelecida para o resultado fiscal, o que levou a um aumento do prêmio de risco", disse o BC no documento, defendendo ainda a busca do objetivo estabelecido.
Entre os analistas de fora do governo, a avaliação mais geral é de que, de fato, o país terá dificuldades para zerar o déficit no próximo ano, já que o resultado está muito vinculado ao aumento da arrecadação, mas eventual mudança no parâmetro passará uma mensagem ruim para o mercado.
Campos Neto participou nesta quarta-feira do 11th Valor Capital Annual Summit, organizado pelo Valor Capital Group, em Nova York.
(Edição de Isabel Versiani e Pedro Fonseca)