Por Letícia Fucuchima
SÃO PAULO (Reuters) - A Cemig (BVMF:CMIG4) já tem quase 1,2 mil consumidores de pequeno porte que passarão a comprar energia no mercado livre a partir de 2024 através de sua comercializadora varejista, e a companhia espera acelerar os negócios para bater a meta de 20 mil clientes nessa nova onda de migrações, disse à Reuters um diretor da elétrica.
A estatal mineira, que opera a maior distribuidora de energia do Brasil em número de clientes, vem modernizando sua área de comercialização de energia para se preparar para a abertura do mercado livre a todos os consumidores ligados na alta tensão a partir de 2024.
Dimas Costa, diretor de comercialização da Cemig, avaliou que o mercado potencial de migrações a partir do ano que vem soma cerca de 100 mil consumidores, principalmente pequenas e médias empresas de comércios e serviços, como padarias e hotéis.
Segundo ele, desde que lançou sua plataforma digital para atrair pequenos consumidores em meados deste ano, a Cemig registrou a contratação de quase 1,2 mil clientes que migrarão ao "ACL" no próximo ano.
Esses clientes já realizaram a chamada "denúncia" do contrato com a distribuidora, processo que permite que eles se desvinculem do portfólio da concessionária local e possam comprar sua energia livremente de qualquer fornecedor.
"No Brasil todo a gente quer 20% (do mercado potencial), ou 20 mil clientes até 2026, mas em Minas Gerais a gente é bem ambicioso, quer no mínimo 80%. Porque a gente tem aí todo um DNA junto aos nossos clientes, somos conhecidos... É um desafio, mas é um desafio bem factível", afirmou o executivo à Reuters.
Entre as vantagens oferecidas aos clientes que ingressam no mercado livre, o executivo citou a redução de custos com energia, com economia que pode chegar a 35% frente aos valores pagos no mercado cativo, e a oferta de certificados renováveis que comprovam a origem limpa da energia consumida.
Em volume de energia, a comercializadora varejista da Cemig já atingiu cerca de 80 megawatts (MW) médios vendidos, batendo antecipadamente uma meta que havia sido traçada para o fim de 2024.
"Nós alcançamos essa marca agora em dezembro", disse Costa, avaliando que o interesse do mercado tem surpreendido. "A hora que esse cliente for conscientizado, nós acreditamos que a velocidade (de migrações) será muito grande."
Ele observou que, embora essa carteira possa se tornar representativa em número de clientes, os volumes de energia ainda seriam relativamente baixos se comparados aos dos grandes clientes. Hoje, a Cemig tem perto de 4,5 mil clientes de grande porte, com cerca de 4,2 GWm comercializados.
Segundo dados da agência reguladora Aneel, até o fim de outubro 10.593 consumidores de todo o país haviam pedido denúncia do contrato com as distribuidoras para a migração ao ACL a partir de 2024. Ao todo, esses consumidores somam 784 MW médios de energia, com uma demanda média de 220 kW.
NOVA LÓGICA
O diretor da Cemig afirmou que a abertura de mercado prevista para o próximo ano exigiu uma "virada de chave" na área de comercialização, que estava acostumada a tratar apenas com grandes clientes industriais e empresas.
"Era uma empresa que sempre trabalhou com marketing institucional. A gente é líder no mercado livre, mas no segmento atacadista, que é bem direcionado. Então, nunca houve aí a questão do marketing de resultado, nós tivemos que virar a chave."
Para atingir um público maior e também fora de Minas Gerais, a Cemig buscou parceiros em todo o país através de consultorias e comercializadoras. A companhia criou um programa de pontos, no qual seus parceiros são recompensados por indicar consumidores a migrar ao ACL por meio da comercializadora da Cemig.
"Nós selecionamos umas 50 cidades no país... A gente não cobra exclusividade dos nossos parceiros, é como quando você coloca um apartamento à venda, geralmente você contrata três ou quatro imobiliárias, e aquele que vender é que vai receber a comissão", explicou.
Ele lembrou ainda que o Brasil deve avançar em algum momento nos próximos anos com o cronograma de abertura total do mercado, possibilitando que até mesmo residências possam comprar livremente sua energia elétrica, o que deverá exigir das empresas novas modernizações de suas plataformas de venda.
(Por Letícia Fucuchima)