Por Howard Schneider
WASHINGTON (Reuters) - A inflação se intensificou de forma mais ampla na economia norte-americana em outubro, desafiando novamente as perspectivas do Federal Reserve de altas de preços apenas "transitórias" e compensando os recentes aumentos salariais, um golpe para os consumidores, o que levou investidores a aumentarem apostas de que o banco central dos Estados Unidos elevará os juros mais cedo do que o esperado.
Os yields dos Treasuries de dois anos, que acompanham as perspectivas para a taxa básica de juros "overnight" definida pelo Fed, saltaram 6 pontos-base -- maior alta em três semanas e entre os maiores ganhos diários do último um ano e meio -- para 0,485% na quarta-feira após a divulgação de dados mostrando que os preços ao consumidor aumentaram 6,2% em outubro em relação a um ano antes.
Esse foi o maior salto anual nos preços em 30 anos e se aplicou a itens básicos como alimentos, energia e aluguel, bem como a automóveis, cujo ritmo dos aumentos de preços o Fed espera que diminua junto com os "gargalos" causados pela pandemia nas cadeias de abastecimento globais.
LEIA MAIS: Inflação ao consumidor nos EUA acelera em outubro e veio acima das projeções
Mas esses "gargalos" continuam sendo superados pela forte demanda do consumidor norte-americano, e as medidas de núcleo da inflação, destinadas a diminuir o impacto de picos pontuais em bens e serviços nas leituras, também estão aumentando.
"Os riscos decorrentes da inflação têm se tornado cada vez mais importantes para as autoridades do Federal Reserve, uma vez que excessiva acomodação (da política monetária) por muito tempo, ou, essencialmente, aquecimento da economia, pode muito bem ter consequências não intencionais no mercado que corroem ainda mais a confiança e, eventualmente, prejudicam a recuperação", disse Rick Rieder, diretor global de investimentos de renda fixa da gigante de investimentos BlackRock (NYSE:BLK) (SA:BLAK34).
Com a expectativa de que as pressões de demanda, oferta e salários continuem, "as leituras de inflação no curto prazo podem ser intimidantes para os 'combatentes da inflação'... o que pode pressionar os bancos centrais a pelo menos discutir uma reação mais rápida".
O Fed ainda espera que a inflação diminua ao longo do tempo, sem a necessidade de aumentar os juros para arrefecer a economia e arriscar desacelerar ou reverter o crescimento do emprego durante o processo.
Mas quanto mais os dados de inflação ultrapassarem as expectativas, mais difícil será.
"Com a inflação anual agora superando 6%, isso é suficiente para forçar a mão do Fed? Esse longo, longo período transitório tem de aumentar a pressão sobre o Fed", disse Seema Shah, estrategista-chefe da Principal Global Investors.
(Por Howard Schneider)