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Conflitos podem elevar preço de commodities brasileiras e ter impacto na inflação, diz FGV

Publicado 17.04.2024, 07:23
© Reuters.  Conflitos podem elevar preço de commodities brasileiras e ter impacto na inflação, diz FGV
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Após dois meses consecutivos de superávits recordes, o Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) observou uma desaceleração nos volumes do comércio exterior em março, tanto nas exportações como nas importações. Um possível acirramento dos conflitos no Oriente Médio, porém, pode impulsionar as vendas brasileiras no exterior pelo aumento dos preços e ter efeitos negativos na inflação interna, avalia a entidade.

O saldo da balança comercial de março de 2024 foi de US$ 7,5 bilhões, inferior ao de março de 2023. No entanto, na comparação do primeiro trimestre, o superávit de US$ 19,1 bilhões em 2024 foi o maior da série histórica. No caso das exportações, que cresceram 19,7% (janeiro) e 20,6% (fevereiro) na comparação interanual mensal entre 2023 e 2024, foi registrado recuo de 9,6%, em março. No volume importado, o comportamento foi similar: 11,2% (janeiro), 12,4% (fevereiro) e desaceleração para 1,6%, em março.

"Os preços seguiram a trajetória de queda observada desde o início do ano, e caíram 5,6% para as exportações e 8,5% para as importações", informou o Indicador do Comércio Exterior (Icomex), divulgado pelo Ibre da FGV nesta quarta-feira, 17.

Para o comércio exterior do Brasil - exceto se houver alastramento dos conflitos envolvendo as grandes potências -, a oferta de commodities, em especial, do petróleo, poderá ser beneficiada com um possível aumento de preços. Os juros altos nos Estados Unidos tendem a desvalorizar a moeda brasileira junto com fatores domésticos como a questão fiscal, entre outros.

Nesse caso, pressões inflacionárias não são bem-vindas, mas para a balança comercial o efeito seria positivo, avalia o Icomex. "Em abril, antes do acirramento do conflito no Oriente Médio entre Irã e Israel, a Organização Mundial do Comércio (OMC) estimou um aumento no volume do comércio mundial de 2,6% em 2024, após recuo de 1,2%, em 2023, influenciado pelo fraco desempenho da Europa, mas chamou a atenção para as incertezas que pairavam no comércio mundial", ressalta.

A FGV Ibre observa que existe um cenário desfavorável para uma negociação visando o término da guerra na Ucrânia e do conflito entre Israel e o Hamas, que influencia os preços das commodities e afeta a logística do transporte mundial, em especial no Canal do Suez.

A alta probabilidade de manutenção dos juros altos nos Estados Unidos, que poderia levar a um crescimento menor da economia do país, e as dúvidas quanto ao crescimento chinês de 5% anunciado pelo governo, poderão ter um impacto na demanda mundial por importações.

Em 2023, enquanto o volume de comércio mundial recuou, o volume exportado pelo Brasil cresceu 8,6% e o das importações registrou queda de 2,2%. Seca na Argentina, problemas de safra nos Estados Unidos, recuperação da China explicaram o bom desempenho exportador do país. Para 2024, o modelo Ibre estimou em março (Boletim Macro), aumento no volume exportado de 2% e das importações de 1,2%, próximo às projeções da OMC.

"Não há consenso quanto ao desempenho chinês para 2024. No entanto, sinais de melhora da economia chinesa têm levado a que vários especialistas e institutos comecem a acatar a projeção de 5% do governo chinês para 2024 como viável", informa a instituição.

De acordo com o documento, a pauta brasileira de exportações para a China está concentrada em três produtos. No primeiro trimestre de 2024 esses produtos explicaram 77% das exportações para a China - soja (31%); minério de ferro (23%); e petróleo (23%). Mesmo com crescimento menor, ao redor de 4%, as exportações devem desacelerar em relação ao resultado de 2023, mas as variações serão positivas e o superávit está garantido. "Todas essas considerações supõem que o conflito não irá se alastrar pelo mundo", alerta.

Os principais mercados de destino das exportações brasileiras no primeiro trimestre de 2024 foram: China (29,4%); Estados Unidos (12,6%); e a Argentina (3,6%). A participação da União Europeia foi de 12,1%. Estados Unidos é destacado pelo aumento no volume exportado, seja na comparação mensal (+21,6%) ou trimestral (+21,0%). As exportações de petróleo bruto explicaram 19% das vendas para esse mercado, com variação em valor entre os dois primeiros trimestres de 2023 e 2024 de 142%. A China registrou variação positiva no trimestre, mas queda na comparação mensal com menores vendas em volume de soja.

Nas importações, o destaque é o aumento de volume para a China e queda para os Estados Unidos. Nesse último caso, chama atenção a queda nas importações de óleo combustível (9,9% das importações) e recuo de -46% na comparação trimestral.

Observa-se que a distância da participação da China e dos Estados Unidos nas importações brasileiras tem aumentado ao longo dos anos. No primeiro trimestre de 2024, a participação da China foi de 23,9%, dos Estados Unidos de 15,2% e da União Europeia de 19%. Há dez anos atrás, no primeiro trimestre de 2014, essas participações eram: China (17,4%); Estados Unidos (15,5%); e União Europeia (19,3%).

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