Por Philip Pullella
ANTANANARIVO (Reuters) - O papa Francisco disse no sábado que o rápido desmatamento e redução da biodiversidade em diferentes países não devem ser tratados como questões locais, pois ameaçam o futuro de todo o planeta.
Francisco fez seu apelo em uma visita a Madagascar, a quarta maior ilha do mundo, que institutos de pesquisa e agências de ajuda humanitária dizem ter perdido cerca de 44% de sua floresta nos últimos 60 anos, fato estimulado pelas exportações ilegais de pau-rosa e ébano.
Francisco se concentrou na corrupção endêmica, associando-a à pobreza igualmente endêmica, bem como à caça ilegal e exportação ilegal de recursos naturais.
Em declarações a uma reunião de líderes do governo de Madagascar, Francisco disse que alguns estavam lucrando com o desmatamento excessivo, acrescentando: "A deterioração dessa biodiversidade compromete o futuro do país e da Terra, nosso lar comum."
Após grandes incêndios recentes na região amazônica, o presidente Jair Bolsonaro rejeitou as críticas internacionais sobre sua política de expandir terras agrícolas, dizendo que era uma questão doméstica.
"As últimas florestas são ameaçadas por incêndios florestais, caça furtiva, o corte irrestrito de florestas valiosas. A biodiversidade de plantas e animais está ameaçada pelo contrabando e pela exportação ilegal", disse o papa Francisco.
É preciso criar empregos para que envolvidos em trabalhos prejudiciais ao meio ambiente não o vejam como seu único meio de sobrevivência, disse o pontífice em suas declarações ao presidente Andry Rajoelina e seu gabinete.
"Não pode haver uma abordagem ecológica verdadeira ou esforços efetivos para proteger o meio ambiente sem a obtenção de uma justiça social capaz de respeitar o direito ao destino comum dos bens da Terra, não apenas das gerações atuais, mas também daquelas que estão por vir."
Os recentes incêndios na Amazônia deram nova urgência aos apelos de Francisco para proteger a natureza, combater as mudanças climáticas e promover o desenvolvimento sustentável --todos os temas consagrados em sua encíclica de 2015 sobre proteção ambiental.
Madagascar é um dos países mais pobres do mundo. O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas estima que mais de 90% da sua população de 26 milhões de pessoa vivem com menos de 2 dólares por dia, com desnutrição infantil crônica generalizada.
Também é crônica a corrupção, diz a Transparência Internacional.
Francisco exortou os líderes de Madagascar "a lutarem com força e determinação contra todas as formas endêmicas de corrupção e especulação que aumentam a disparidade social e a enfrentar situações de grande instabilidade e exclusão que sempre criam condições de pobreza desumana".