Por Ricardo Brito e Anthony Boadle
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), está confiante de que a direita demonstrará força nas municipais do ano que vem e vencerá a eleição ao Planalto em 2026 mesmo que o ex-presidente Jair Bolsonaro se torne "injustamente" inelegível, porque ele manteria sua força como cabo eleitoral.
"Se essa injustiça acontecer, multiplique por 10 a sua capacidade de apoio a candidatos vitoriosos nas eleições de 2024 e 2026", disse, em entrevista à Reuters, o ex-chefe da Casa Civil de Bolsonaro.
Agora proeminente nome da ala oposicionista de seu estratégico partido, o mesmo do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), Ciro Nogueira admite um cenário que ameaça Bolsonaro cada vez mais de perto e empurra a direita publicamente a fazer seus cálculos sem ele na corrida eleitoral.
O ex-presidente, que voltou ao Brasil na semana passada, enfrenta uma série de investigações e inquéritos, inclusive na Justiça Eleitoral, que vai julgar sua campanha contra a confiabilidade do sistema eletrônico de votação. Parte dos processos podem deixá-lo inelegível por oito anos.
Ciro Nogueira disse haver dúvidas no governo Lula sobre a conveniência de o ex-presidente ficar inelegível porque, a seu juízo, isso vai gerar um "sentimento de injustiça" que vai torná-lo mais forte do que se puder concorrer novamente ao Planalto.
A despeito disso, o ex-ministro de Bolsonaro não acredita em uma revolta popular que provoque uma espécie de 8 de janeiro caso o Tribunal Superior Eleitoral condene-o a perda de direitos políticos e o retire da disputa.
"Não vejo por aí, não de revolta popular, de convulsão. (Pode ocorrer) uma indignação sem precedentes e que fatalmente ela será transformada em votos", afirmou.
Para o dirigente, Bolsonaro, "incontestavelmente o grande líder da oposição", fomenta diversas lideranças de oposição e há outros que se fizeram com capacidade própria e que podem cuidar desse projeto, ao contrário dos partidos de esquerda que gravitam em torno do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
"Chapas com o apoio do Bolsonaro inelegível, Tarcisio, Zema, Tereza, Ratinho , ganhariam essa eleição (de 2026) com muita facilidade. Uma chapa Tarcisio e Zema de vice ou ao contrário, ou Michelle de vice, com o apoio do Bolsonaro?", comentou.
"Acho que os nomes são esses, política é fila, pode ser que até lá surjam outros nomes, mas acho que os nomes postos são esses quatro que eu citei", reforçou ele, citando os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de Minas, Romeu Zema (Novo), e do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), além da senadora Tereza Cristina (PP-MS), ex-ministra da Agricultura.
O presidente do PP disse que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, agora no comando do PL Mulher, poderia ser "uma grande candidata a vice" e, se quiser, se elegeria senadora em qualquer uma das 27 unidades da federação, é só ela escolher. Apesar dos chamados, Bolsonaro disse mais de uma vez que a mulher não tem "vivência" para cargos no Executivo.
MAIS RIGOR NO ARCABOUÇO FISCAL
O presidente do PP disse ter um balanço "extremamente negativo" dos 100 dias da gestão Lula. Avaliou que ele não se preparou para o retorno, o governo está sem comando e norte e faltam ministros como José Dirceu e Antonio Palocci que conduziam a máquina pública.
"O que foi feito nesses 100 dias? Troca de nomenclatura de programas que já existiam havia 20 anos. Obras? Nenhuma, a não ser instabilidade econômica por conta de declarações estapafúrdias. Então, é um sentimento de frustração, de pessimismo com esse governo total", considerou.
Em tom de ironia, o dirigente destacou que não está fácil fazer oposição porque a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e deputados do partido querem tomar o seu papel. Os petistas têm feito duras críticas principalmente à política de juros praticada pelo Banco Central comandada por Roberto Campos Neto, que chegou ao cargo na gestão Bolsonaro, além de se oporem a medidas mais austeras propostas pela equipe econômica.
Ainda assim, Ciro Nogueira disse que vai fazer uma oposição responsável ao atual governo. Vai sugerir que o partido promova ajustes no arcabouço fiscal e reforma tributária. A relatoria das duas medidas na Câmara serão de deputados do PP. Quer conversar com o correligionário, o presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), sobre o assunto.
Um dos pontos críticos do dirigente é sobre como o governo vai conseguir arranjar 150 bilhões de reais em receita para o país deixar de ser deficitário e fazer superávit nos próximos anos. Segundo ele, não teria como isso ocorrer sem aumento de impostos porque, até o momento, as medidas aventadas como tributar jogos de apostas e outros não chegariam a esse valor.
"O partido, se depender de mim, não vai aprovar esses projetos e reformas como estão sendo apresentados. Se sofrerem os ajustes necessários, aí sim pode contar com o nosso apoio", ressaltou.
O presidente do PP afirmou ainda que, se depender dele, em "hipótese nenhuma" o partido teria uma conversa com Lula e o governo para integrar a atual gestão. Ressalvou que individualmente se um deputado quiser apoiar o governo que preste contas à sua população e aos seus eleitores.
"Mas eu garanto, e tenho uma liderança expressiva no meu partido, e como partido impossível nós apoiamos o governo do PT", disse.