Entenda o risco de “shutdown” nos EUA e seus impactos

Publicado 29.09.2025, 10:10
Entenda o risco de “shutdown” nos EUA e seus impactos

O governo dos EUA pode enfrentar um novo “shutdown” caso o Congresso não chegue a um acordo sobre o orçamento até 3ª feira (30.set.2025), último dia do ano fiscal. O termo se refere à paralisação parcial das atividades governamentais por falta de recursos, o que atinge desde o funcionamento de agências federais até o pagamento de funcionários considerados “não essenciais”.

A origem do mecanismo está na lei Anti Deficiência, de 1884, que proíbe agências federais de gastarem acima do autorizado sem a aprovação do Congresso. Anualmente, os parlamentares precisam aprovar 12 leis de dotações que financiam os gastos públicos. Se não há consenso, setores sem verba aprovada entram em paralisação.

O risco é real e foi reconhecido pelo próprio presidente Donald Trump (Partido Republicano), que declarou que uma paralisação do governo “pode ser, sim” provável diante de um impasse com os democratas.

“O próprio mercado está apostando em um shutdown nos EUA”, disse Daniela Freddo, professora do Departamento de Economia da UnB (Universidade de Brasília), ao Poder360.

A Câmara já aprovou uma extensão dos gastos até novembro, mas no Senado a maioria republicana precisa de votos democratas para aprovar a lei. O problema é que os lados discordam sobre como estruturar o orçamento.

Os republicanos, pressionados pela ala mais conservadora do partido, querem cortes mais profundos em programas sociais e redução de gastos federais. Argumentam que o deficit do governo está em trajetória insustentável. Eis a íntegra do projeto de lei republicano (PDF – 23 MB, em inglês).

Já os democratas defendem a manutenção de investimentos em saúde, educação e infraestrutura, afirmando que os cortes propostos pelos republicanos prejudicariam diretamente milhões de famílias norte-americanas.

Sem consenso, nenhuma das propostas avança. “Enquanto as negociações seguem paradas, a Casa Branca ordenou que agências se preparem para demissões em massa, indo além das licenças temporárias de shutdowns anteriores”, afirmou Freddo.

Apesar da tensão, ainda há alternativas. Uma é aprovar o pacote completo de orçamento para o ano fiscal de 2026, que vai de outubro de 2025 a setembro de 2026. Outra é aprovar uma medida temporária conhecida como continuing resolution, que mantém os níveis de gasto atuais por algumas semanas ou meses até que se chegue a um acordo definitivo.

Se houver paralisação, os efeitos serão sentidos rapidamente nos EUA.

“As consequências incluem redução temporária do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), atraso de serviços públicos e processos regulatórios, servidores não essenciais em licença não remunerada ou mesmo cortes definitivos, suspensão ou adiamento de contratos governamentais e ampliação da percepção de risco político”, disse a economista.

Nos mercados financeiros, a paralisação tende a aumentar a volatilidade de ações, juros e câmbio. Também provoca busca por ativos de refúgio, como Treasuries e ouro, e penaliza setores dependentes de contratos ou aprovações do governo.

O impacto costuma ser limitado se a paralisação for curta, mas a ameaça de demissões em massa aumenta a gravidade potencial.

O calendário fiscal ajuda a explicar por que esses embates se repetem. Diferente do calendário civil, que vai de janeiro a dezembro, o ano fiscal norte-americano termina em 30 de setembro.

Segundo Freddo, isso “cria um prazo fixo que concentra as negociações e aumenta a pressão para soluções temporárias, como a proposta de extensão do financiamento até 21 de novembro”.

Embora os mercados normalmente se recuperem depois de um acordo, “a escalada de retórica (como a troca de acusações entre Trump e líderes democratas e a ameaça explícita de demissões em massa) reforça a percepção de instabilidade e preocupa investidores pela sinalização de que a governabilidade norte-americana está cada vez mais sujeita a confrontos partidários”, concluiu.

Esta reportagem foi produzida pela estagiária de jornalismo Nathallie Lopes sob supervisão do editor Matheus Collaço.

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