WASHINGTON (Reuters) - Duas novas análises da equipe do Federal Reserve (Fed) concluíram que as tensões no mercado de títulos públicos dos Estados Unidos (o mercado de Treasury) podem complicar os planos do banco central de reduzir seu balanço patrimonial, amplificando o efeito dessas reduções nos mercados financeiros e aumentando as taxas de juros mais do que o previsto.
Os estudos, produzidos por pesquisadores das unidades regionais do Fed em Atlanta e Kansas City, são semelhantes a outros esforços para estimar como os mercados podem ser influenciados conforme o Fed permite que trilhões de dólares em títulos comprados para apoiar a economia durante a pandemia de coronavírus vençam e "deixem" seu balanço.
Mas, diferentemente das condições relativamente calmas que prevaleceram em 2017, quando o Fed reduziu seu balanço pela última vez, essa rodada de "aperto quantitativo" (QT, na sigla em inglês) vem na forma de incerteza sobre a economia. Aumentos nas taxas de juros de curto prazo pelo Fed e outros fatores têm pressionado o mercado de títulos do Tesouro dos EUA, visto como crucial.
O pesquisador do Fed de Atlanta Bin Wei estimou que, durante tempos "normais", as reduções nas participações do Fed em títulos do Tesouro dos EUA de cerca de 2,2 trilhões de dólares nos próximos três anos teriam impacto equivalente de aumentar imediatamente a taxa de juros Fed funds de curto prazo em cerca de 0,29 ponto percentual.
Esse é um número modesto e semelhante a um valor que o chair do Fed, Jerome Powell, citou quando perguntado como os planos do banco central para seu balanço restringiriam ainda mais as condições de crédito além de quaisquer aumentos na taxa básica de juros projetados pelo Fed.
No entanto, em tempos de maior volatilidade ou estresse no mercado de Treasuries, concluiu, isso teria impacto de quase três aumentos típicos das taxas, ou cerca de 0,74 ponto percentual --um duro golpe que poderia apertar a política monetária mais do que o Fed espera.
As reduções do balanço começaram em junho e, embora possam chegar a 95 bilhões de dólares por mês, nas primeiras semanas o estoque de títulos do Tesouro e títulos garantidos por hipotecas (MBS, na sigla em inglês) de 8,9 trilhões de dólares do Fed caiu apenas cerca de 40 bilhões de dólares.
Ainda assim, analistas de fora do Fed já começaram a conectar tensões recentes no mercado de Treasuries --de maior volatilidade a maiores diferenças (spreads) de compra e venda-- a possíveis problemas para o banco central dos EUA e um fim antecipado de suas reduções de balanço.
"Nós não diríamos que o mercado do Tesouro está estressado" como está, escreveram os analistas da Piper Sandler Roberto Perli e Benson Durham em nota na semana passada. "Mas as más condições de liquidez, sem dúvida, exacerbam a volatilidade já existente. Elas também podem induzir o Fed, que se preocupa profundamente com o funcionamento do mercado de Treasury, a parar o QT mais cedo do que pensa no momento."
O Fed não especificou um ponto de parada --o tamanho necessário de seu balanço patrimonial em tempos normais depende de fatores como demanda pública por dinheiro e procura de instituições bancárias por reservas mantidas no Fed. Mas analistas apontaram um possível corte de 2 trilhões de dólares a 3 trilhões de dólares em suas participações em títulos do Tesouro e MBS.
(Reportagem por Howard Schneider)