BRASÍLIA (Reuters) - O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, defendeu nesta terça-feira a criação de linhas de crédito rural em dólar pelo Plano Safra, no intuito de atender com juros menores os produtores de médio a grande porte, deixando espaço para que mais subsídios fiquem para o pequeno agricultor.
Após encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília, ele disse a jornalistas que a demanda será levada por Lula ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pedindo uma atenção maior na formulação do próximo plano, que entrará em vigor em julho.
"O agronegócio cresce... é muito grande e as vezes o governo, o Tesouro, não dá conta de equacionar todas essas questões", afirmou.
"Então por isso vamos buscar inovar, nós vamos buscar talvez implementar mais linhas de crédito dolarizadas... captar dinheiro lá fora com juros bastante acessíveis", acrescentou.
Considerando que as commodities exportadas por médios e grandes produtores também são comercializadas em dólar, Fávaro destacou que a captação de recursos dolarizados minimiza o risco da operação, porque "a variação cambial é zero e o juro internacional é mais barato".
A medida ainda abriria "espaço fiscal", disse o ministro, para a equalização de taxas de juros para produtores menores serem atendidos pela linha Pronaf.
A busca por estratégias para definir o próximo Plano Safra ocorre em momento de esgotamento de recursos do programa vigente e, com isso, suspensão de linhas de crédito rural pelo BNDES.
No mês passado, Fávaro solicitou ao Ministério da Fazenda o montante de 1 bilhão de reais para equalização de juros do Plano Safra atual, para permitir a liberação de 30 bilhões de reais em crédito adicional para 2022/23.
Junto ao ministro da Agricultura nesta terça-feira, o presidente da agência de promoção de exportações Apex Brasil, Jorge Viana, ressaltou que tratou recentemente com a ex-presidente Dilma Rousseff, agora líder do banco dos Brics, a negociação da retomada de uma linha de crédito da instituição financeira voltada para o agronegócio brasileiro.
"Eu estou falando de 2,5 bilhões de reais para as nossas cadeias produtivas que são dolarizadas, que exportam, com taxas de juros de 7%, afirmou.
China
Além das questões financeiras, Fávaro disse que levou à Lula um retorno sobre os resultados obtidos na missão à China, ocorrida em março, ressaltando que ainda ficaram oportunidades em aberto, para serem formalizadas.
Após cancelar sua participação à missão por um diagnóstico de pneumonia leve, o presidente remarcou a viagem para 11 de abril e o ministro estará novamente na comitiva do governo.
"Fui convocado", disse ele.
Segundo o ministro, muitos executivos já realizaram negócios, mas outros também deixaram pendências e "e vão ser convidados para formalizar negócios na presença do presidente".
Fontes ouvidas pela Reuters disseram que, de fato, a ausência de Lula na missão chinesa limitou os resultados obtidos, como a expectativa de mais habilitações de frigoríficos brasileiros para exportação ao país asiático e a possibilidade de revisão do protocolo entre os dois países que define um autoembargo para vendas de carne bovina do Brasil à China, em casos de detecção da doença "mal da vaca louca", mesmo antes da definição sobre a natureza da doença.
Aproveitando a presença de Fávaro, o presidente da Apex esclareceu falas ocorridas na China durante a missão, que geraram polêmicas no setor agropecuário por citarem informações sobre desmatamento.
"O que eu falei foi que no governo passado o desmatamento dobrou, e neste governo o desmatamento vai diminuir... lamento muito esse ruído... não há nada na minha fala que faça nenhum tipo de referência que possa ser prejudicial ao agro", enfatizou.
O ministro da Agricultura concordou com Viana e comentou que membros do setor agropecuário ainda querem "desqualificar as ações do governo Lula... querendo dividir", em referência a oposições partidárias.
(Reportagem de Lisandra Paraguassu e Nayara Figueiredo)
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