Por Howard Schneider e Ann Saphir
WASHINGTON (Reuters) - O Federal Reserve elevou nesta quarta-feira a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, mas indicou que está prestes a interromper novos aumentos nos custos de empréstimos em meio à turbulência recente nos mercados financeiros provocada pelo colapso de dois bancos norte-americanos.
O movimento colocou a taxa de juros de referência do banco central dos EUA na faixa de 4,75% a 5,00%, com projeções atualizadas mostrando que 10 das 18 autoridades do Fed ainda esperam que os juros subam mais 0,25 ponto percentual até o final deste ano, o mesmo nível visto nas projeções de dezembro, mesmo em meio à incerteza sobre o quanto as condições financeiras mais restritivas pesarão sobre um mercado de trabalho forte e o atual ritmo resiliente da inflação.
Mas, em uma mudança importante provocada pelas quebras repentinas neste mês do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank, o comunicado do Fed não diz mais que "aumentos contínuos" nos juros provavelmente serão apropriados. Essa linguagem esteve em todos os comunicados de política monetária desde a decisão de 16 de março de 2022, que iniciou o ciclo de aumento dos juros.
Crise bancária
O chair do Fed, Jerome Powell, abriu sua coletiva de imprensa pós-reunião com comentários focados na recente crise bancária, buscando tranquilizar correntistas, consumidores e empresas de que o sistema bancário estava sólido após a série de medidas que ele e outros reguladores tomaram nas últimas duas semanas.
"Essas medidas demonstram que as economias de todos os correntistas no sistema bancário estão seguras", disse.
Dito isso, Powell afirmou que as autoridades "estão preparadas para usar todas as nossas ferramentas conforme necessário para mantê-lo são e salvo".
O chair também afirmou que espera e elogiou investigações externas sobre os problemas bancários que começaram com o colapso do Silicon Valley Bank.
"É 100% certo que haverá investigações independentes" sobre o que aconteceu com os bancos e o Fed saúda essas investigações, à medida que avança em sua própria investigação", acrescentou.
A turbulência, no entanto, provavelmente afetará o crescimento e as perspectivas econômicas, disse ele. Powell também afirmou que, os eventos recentes provavelmente resultarão em condições de crédito mais apertadas para famílias e empresas.
Como é muito cedo para determinar os resultados desses efeitos, Powell disse que era apropriado prosseguir com um aumento da taxa básica nesta reunião, mas também que não iria continuar a afirmar que os aumentos "contínuos" dos juros eram apropriados.
Desinflação
Powell disse que o processo de enfraquecimento da inflação ainda acontece lentamente, mas não está claro qual impacto a última rodada de problemas no setor bancário terá na economia e na política monetária norte-americanas.
O processo de desinflação está em andamento, mas as pressões de preços permanecem resilientes no setor de serviços não habitacionais, disse. Já quando se trata do impacto de condições financeiras mais apertadas na redução da inflação, Powell afirmou achar "que é potencialmente bastante real", mas também incerto, e o Fed terá que observar como isso influencia a política monetária.
Apesar disso, Powell disse que, embora o atual estresse do sistema bancário tenha acrescentado incerteza às perspectivas, ainda é possível que a economia norte-americana não enfrente uma desaceleração acentuada conforme o Fed trabalha para conter as crescentes pressões de preços.
Em termos de um pouso suave para a economia, "há um caminho para isso e esse caminho ainda existe", afirmou.