Por Eduardo Simões e Maria Carolina Marcello
(Reuters) - O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse nesta terça-feira que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva espera que a Câmara dos Deputados conclua a aprovação da proposta do novo arcabouço fiscal neste mês, mantendo mudança ocorrida no Senado que autoriza o governo a usar a inflação do segundo semestre como baliza para a previsão das despesas do ano seguinte.
A expectativa, no entanto, pode ser frustrada à medida que segue pendente a reforma ministerial para acomodar partidos do chamado centrão no governo.
"Expectativa é que possamos votar ainda em agosto", disse Padilha a jornalistas ao se referir à proposta de novo marco fiscal.
Segundo Padilha, o Executivo tem interesse em atrair as bancadas do PP e do Republicanos na Câmara para sua base. Relatou, no entanto, que por ora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não tem reunião marcada com lideranças dessas duas legendas -- os encontros devem ocorrer após o retorno de líderes ao Brasil.
O líder do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), reconheceu, em entrevista ao jornal O Globo nesta terça-feira, que a indefinição sobre os espaços a serem cedidos ao centrão afetam a votação das novas regras fiscais.
"Qualquer votação aqui na Câmara e no Senado vai estar sempre sendo influenciada pelo funcionamento do governo, pela composição do governo e por essa dita minirreforma ministerial", disse ao jornal.
O deputado, que participou de reunião nesta terça com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), avalia que a aprovação do arcabouço ocorrerá ainda em agosto.
Partidos do chamado centrão pressionam por maior participação no governo -- leia-se cargos e ministérios -- em troca de votos favoráveis no Legislativo. O Palácio do Planalto já tem os nomes escolhidos pelo centrão, mas não há definição sobre quais pastas irão ocupar. Uma batida de martelo depende do aval de Lula, disseram à Reuters fontes que acompanham as negociações.
Os deputados Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA) foram antecipados pelo líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), como os nomes indicados pelos partidos. De acordo com Guimarães, "são dois nomes que o presidente já conhece e gostou muito".
A expectativa é que o anúncio das mudanças ministeriais ocorra ainda neste mês.
MUDANÇAS
Mais cedo, Padilha havia informado que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem dialogado com lideranças da Câmara para explicar a importância de manter a alteração feita pelo Senado sobre a inflação e argumentou que a mudança "torna mais realista a construção da peça orçamentária".
A manutenção da mudança incluída no texto pelo Senado também tem sido publicamente defendida pela ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet.
Como a proposta do arcabouço fiscal começou a tramitar pela Câmara, a Casa tem a última palavra sobre o texto e, caso decida desconsiderar as modificações promovidas pelos senadores, enviará o texto para sanção de Lula sem a emenda que trata da inflação.
Padilha, que se reuniu com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), disse que também pretende conversar com o Lira para discutir as prioridades legislativas do governo neste segundo semestre.