SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quarta-feira que é falso que 33 milhões de brasileiros estejam em situação de fome, argumentando que os números, parte dos resultados de uma pesquisa domiciliar divulgada por especialistas neste ano, são resultado de "narrativa política" para fazer barulho.
Os dados questionados por Guedes fazem parte do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil (II Vigisan), que mostrou em meados deste ano que o número de brasileiros que convivem com a fome chegou a 33 milhões no final de 2021 e início de 2022.
A pesquisa, feita com base na realização de entrevistas em 12.745 domicílios, é de responsabilidade da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, um grupo de think thanks brasileiros dedicados ao tema.
Dados semelhantes para o ano de 2021 aparecem em estudo da Fundação Getúlio Vargas. De acordo com relatório da ONU, o Brasil voltou ao Mapa da Fome global.
"A narrativa política é de barulho:'33 milhões de pessoas passando fome'... É mentira, é falso, não são esses os números", disse o ministro da Economia, que falou na abertura de um congresso da Fenabrave, do setor de distribuição de veículos, em São Paulo.
Guedes justificou a afirmação dizendo que o governo tem ajudado a população vulnerável com programas de transferência de renda, como o Auxílio Emergencial e o Auxílio Brasil, desde o início da pandemia, e que a alta da inflação não seria suficiente para levar as pessoas à insegurança alimentar.
O valor do Auxílio Brasil foi de 400 reais a 600 reais em agosto deste ano, quando o Governo conseguiu aprovar o aumento às vésperas da disputa presidencial, driblando a lei eleitoral. Agora, o programa foi expandido para 20 milhões de famílias, mas estudiosos do setor ponderam que a descontinuidade anterior e a variação de valores complicou a efetividade da iniciativa, especialmente no ano passado.
Em seu discurso, Guedes disse ainda que a porcentagem de famílias abaixo da linha de pobreza no Brasil vai cair para 4% --uma projeção que aparece em estudo apresentado recentemente pelo presidente do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), Erik Alencar de Figueiredo, mas que é questionado por especialistas.
A fala de Guedes veio depois que o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou no final do mês passado que "não é verdade" o que chamou de "discurso" de que há 15 milhões de pessoas passando fome no país. Na ocasião, Bolsonaro também exaltou o papel do Auxílio Brasil no enfrentamento à insegurança alimentar.
(Por Luana Maria Benedito)