Por Angelo Amante e Crispian Balmer
ROMA (Reuters) - A Itália acordou com ruas desertas, lojas e restaurantes fechados, e com centenas de vôos cancelados nesta terça-feira, primeiro dia de um isolamento inédito imposto para desacelerar a propagação do coronavírus pelo país que vive a pior epidemia do continente europeu.
Horas depois de as dramáticas restrições entrarem em vigência, autoridades sanitárias do país anunciaram que o total de mortes pelo coronavírus na Itália saltou para 631, um aumento de 36%, o maior em números absolutos desde que o surto veio à tona no dia 21 de fevereiro.
O número total de casos na Itália subiu para 10.149, em relação aos 9.172 casos anteriores, um aumento de 10,7%, um ritmo mais lento do que o registrado recentemente, mas autoridades afirmaram que a região no epicentro da epidemia, a Lombardia, havia providenciado dados incompletos.
O governo solicitou que todos os italianos fiquem em casa e evitem viagens não-essenciais até o dia 3 de abril, ampliando radicalmente medidas já tomadas em grande parte do norte, região mais rica do país, e que é a principal área afetada pela epidemia.
"Nosso dever cívico é a única coisa que pode nos salvar", disse Marzio Tonilo, 35 anos, um professor da cidade de San Fiorano, na região norte do país, que foi colocada em quarentena no mês passado.
O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, ampliou inesperadamente a chamada "zona vermelha" para o país inteiro na noite de segunda-feira, introduzindo os controles mais severos a um país ocidental desde a Segunda Guerra Mundial. A medida chocou muitas pequenas empresas e comércios, que temem pelo seu futuro.
"Parece que o apocalipse chegou, não há ninguém por perto", disse Mario Monfreda, que dirige o restaurante Larys em uma área residencial de Roma. Sob a ordem governamental, todos os bares e restaurantes terão de fechar às 18h.
"É um desastre total. Isso irá nos reduzir a nada... Mais pessoas irão morrer como resultado da crise econômica que esse isolamento irá causar, do que pelo próprio vírus."
Entretanto, a próspera região da Lombardia, voltada para a capital financeira Milão, pediu que o governo introduzisse medidas ainda mais rigorosas.
"Eu fecharia todas as lojas. Eu certamente suspenderia o transporte público e procuraria todas as empresas que poderiam ser fechadas sem que fossem criados danos excessivos à economia", disse o governador da Lombardia, Attilio Fontana.
Embora a Lombardia responda por 74% das vítimas fatais do vírus, a doença agora chegou ao país inteiro e o governo teme que se o quadro piorar, o sistema de saúde no sul, menos preparado, possa entrar em colapso, causando altas dramáticas nos números de mortos.
Pontos turísticos de Roma, incluindo a Fontana de Trevi e o Panteão, estavam quase totalmente vazios na terça-feira, enquanto o Vaticano fechou a Praça de São Pedro e a Basílica de São Pedro para os turistas. A polícia pediu que turistas voltassem aos seus hotéis.
Durante pelo menos três semanas, viajantes no país terão de preencher uma declaração com suas justificativas e levá-la consigo. Eventos ao ar livre, incluindo de esportes, foram proibidos, enquanto bares e restaurantes terão de fechar às 18h. Escolas e universidades permanecerão fechadas até 3 de abril.
(Reportagem adicional de Giselda Vagnoni, Gavin Jones, Angelo Amante, Cristiano Corvino, Guglielmo Mangiapane, Giulia Segreti, James Mackenzie, Sara Rossi (SA:RSID3), Valentina Za, Francesca Landini e Dominique Patton)