Por Lisandra Paraguassu e Bernardo Caram
BRASÍLIA (Reuters) - O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva iniciou nesta sexta-feira a formação do governo que tomará posse em 1º janeiro com o anúncio dos primeiros ministros, confirmando o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad à frente do Ministério da Fazenda, o ex-presidente do Tribunal de Contas da União (TCU) José Múcio Monteiro no comando da Defesa e o ex-governador do Maranhão Flávio Dino como ministro da Justiça.
Lula anunciou também que o atual governador da Bahia, Rui Costa, será o chefe da Casa Civil da futura gestão e o ex-chanceler Mauro Vieira voltará a chefiar a pasta das Relações Exteriores.
Um dos nomes mais próximos a Lula dentro do PT, Haddad foi candidato à Presidência em 2018, quando Lula não pôde concorrer devido à Lei da Ficha Limpa. Neste ano, disputou o governo de São Paulo, mas foi derrotado em segundo turno por Tarcísio de Freitas, apoiado pelo atual presidente Jair Bolsonaro.
"A partir de agora vocês podem conversar com o Haddad sobre o mercado, sobre a preocupação do mercado. Eu espero que Haddad fale do mercado, mas fale do problema social, que o povo brasileiro precisa", disse Lula em entrevista coletiva ao anunciar o futuro ministro.
A possibilidade de Haddad assumir o comando da economia na gestão Lula foi recebida inicialmente com desconfiança no mercado financeiro e uma das missões que ele terá à frente da pasta será quebrar essa resistência, além de enfrentar um cenário interno e externo desafiador na economia.
Como a indicação já era amplamente esperada pelos mercados financeiros, o Ibovespa ganhava fôlego e o dólar reduzia seus ganhos frente ao real após a confirmação do nome de Haddad.
O futuro ministro da Fazenda disse que aqueles que temem que ele promova uma agenda fiscal irresponsável precisam olhar para a sua história na administração pública, e lembrou que foi o primeiro prefeito a conseguir a nota de grau de investimento quando estava à frente da prefeitura de São Paulo.
“Para quem teme um ministro gastador, olha o investment grade da prefeitura de São Paulo”, disse Haddad a jornalistas. “Se você não olhar para a trajetória da pessoa, você vai cair em fake news. Para que mais fake news?”
Haddad afirmou, ainda, já ter sondado “muita gente” para compor sua equipe, sem ter feito ainda convites formais, e que o objetivo é montar um grupo plural e que trabalhe de forma coesa com o Ministério do Planejamento. Segundo Lula, o nome a ser escolhido para esse ministério será "bastante afinado” com Haddad.
Um dos primeiros desafios de Haddad após a confirmação na Fazenda será ajudar a negociar a aprovação da PEC da Transição na Câmara, onde Lula disse ter ouvido "boato" de que a tramitação será complicada. O presidente eleito disse que vai ter "quantas conversas forem necessárias" para que a PEC seja aprovada na Casa, após ter passado nesta semana pelo Senado.
Defesa, Justiça, Casa Civil e Itamaraty
Outro nome que já era esperado, Múcio é bem visto dentro das Forças Armadas e elogiado por todos espectros da política por sua capacidade de diálogo e articulação. A facilidade que ele tem de transitar entre todas as áreas do governo e da política devem ser um ativo para Lula, em um momento de tensões na caserna após os militares ocuparem vários espaços tradicionalmente civis no governo do atual presidente Jair Bolsonaro.
Com o anúncio de Múcio, o comando da pasta da Defesa voltará a mãos civis após quase cinco anos, período iniciado no governo Michel Temer e no qual cinco generais do Exército comandaram o ministério.
O futuro ministro já indicou, inclusive, os futuros comandantes das Forças, adotando o critério tradicional de antiguidade. Os indicados foram o general Júlio César de Arruda para comandar o Exército, o almirante de esquadra Marcos Sampaio para a Marinha e o tenente-brigadeiro do ar Marcelo Damasceno para a Aeronáutica, além do almirante de esquadra Renato Rodrigues de Aguiar Freire para o comando do Estado-Maior.
Lula disse, ao anunciar Múcio, que as Forças Armadas têm uma missão nobre e não podem fazer política. "Eu fui presidente oito anos, eu tive uma relação com as Forças Armadas que foi, do meu ponto de vista, extraordinária, eles nunca me criaram nenhum problema, possivelmente eu tenha sido o presidente que mais recuperou as condições econômicas e necessidades estratégicas das Forçar Armadas", afirmou.
O futuro chanceler Vieira, por sua vez, foi o último ministro das Relações Exteriores do governo Dilma Rousseff, entre 2015 e 2016, e já chefiou as principais missões diplomáticas do Brasil no exterior, como as embaixadas na Argentina e nos Estados Unidos e a representação do país na Organização das Nações Unidas (ONU).
Já o ex-governador do Maranhão Flávio Dino é ex-juiz federal e coordenou a área de Justiça e Segurança Pública na transição de governo, quando defendeu revogar decretos do atual governo que facilitam acesso a armas, além de reverter a ampliação dos poderes da Polícia Rodoviária Federal. Dino também defende um maior rigor no combate aos crimes ambientais, especialmente na Amazônia.
Após ser anunciado, o futuro ministro antecipou que o delegado Andrei Rodrigues, que coordenou a equipe de segurança de Lula durante a campanha eleitoral, será o próximo diretor-geral da Polícia Federal.
No caso de Rui Costa, governador da Bahia por dois mandatos, ele é visto como um bom gestor e pode ficar à frente de um novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que Lula disse na campanha eleitoral que pretende reeditar.
Ele ajudou a fundar o PT em 1980 e, assim como Lula, tem histórico sindical, além de ser afilhado político do senador baiano Jaques Wagner, um dos nomes mais próximos de Lula no partido.
Depois de anunciar os primeiros cinco nomes do ministério, Lula disse que deve definir no domingo a quantidade de pastas que terá na Esplanada dos Ministérios da sua gestão, ao acrescentar que, após sua diplomação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na segunda-feira, vai terminar a montagem do seu governo.