SÃO PAULO (Reuters) - Os ativos financeiros brasileiros voltavam a experimentar uma sessão de fortes perdas nesta sexta-feira, ocupando lugar negativo de destaque no mundo, com sinais de escalada em tensões políticas em meio à saída de Sergio Moro do governo se somando a temores sobre os rumos da economia diante de persistentes ruídos em Brasília.
O dólar disparou a um novo recorde nominal acima de 5,71 reais, em alta de cerca de 3% no dia e de quase 42% no ano. O Ibovespa chegou a despencar 9%, na casa dos 72 mil pontos. E os DIs de longo prazo, mais associados à percepção de risco político-econômico, saltavam mais de 100 pontos-base, com a inclinação --uma medida de risco-- em forte alta.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, pediu demissão do cargo nesta sexta-feira com um discurso firme contra a decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar o comando da Polícia Federal, que disse representar interferência política e quebra da promessa de que teria carta-branca.
Já na véspera os mercados haviam reagido negativamente a notícias sobre a saída do ministro. Isso veio na sequência da demissão do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Ambos são mais bem avaliados pela população do que Bolsonaro.
"A percepção do mercado seria de que o governo está perdendo o rumo político e o Executivo está se isolando, em meio aos problemas ligados à pandemia global, inclusive com o esvaziamento da pasta de Paulo Guedes", disse a Infinity Asset Management em nota.
Chamou atenção nesta semana o fato de o governo ter anunciado um pacote para retomar o crescimento após a crise do coronavírus sem a participação da equipe econômica.
A existência de um plano para retomada da economia sob a batuta da Casa Civil estruturado em torno do aumento de investimentos públicos expôs as divisões internas no governo Bolsonaro sobre a melhor estratégia para o país se reerguer da crise, num momento em que o Ministério da Economia segue apostando em reformas para atração de investidores privados.
"Aos olhos do mercado, Paulo Guedes não teria mais seu cargo garantido 'para sempre'. Isso assusta os investidores", disse Dan Kawa, sócio da TAG Investimentos. "Acho que o cenário para o Brasil se tornou muito mais incerto e negativo até, no mínimo, termos uma visibilidade do que será este 'novo governo'", completou.
Um gestor destacou que o nível de risco no mercado está escalando, saindo de estresse diário e tomando forma de receio estrutural.
Isso, para ele, fica evidente sobretudo no mercado de DI --no qual as taxas de curto prazo estão abaixo de 3% enquanto as de longo prazo operam perto de 9%. "Vamos parar um pouco e raciocinar melhor sobre os fundamentos", disse.
(Por José de Castro)