Por Pedro Fonseca
(Reuters) - O presidente Jair Bolsonaro disse nesta segunda-feira que ninguém pode ser obrigado a tomar vacina, em resposta a uma apoiadora que aparentemente pediu que o governo federal proiba a vacinação contra a Covid-19, em meio a uma corrida global por um tratamento para a doença causada pelo novo coronavírus.
"Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina", disse Bolsonaro na entrada do Palácio da Alvorada no início da noite, em resposta a uma apoiadora que lhe pediu para não permitir "esse negócio de vacina", afirmando ser perigoso, de acordo com vídeo publicado nas redes sociais.
No início do mês, ao assinar medida provisória que abriu crédito orçamentário de 1,9 bilhão de reais para a compra de 100 milhões de doses e posterior produção local da possível vacina contra Covid-19 desenvolvida pelo laboratório britânico AstraZeneca e a Universidade de Oxford, Bolsonaro afirmou que a vacinação resolveria o problema provocado pela pandemia.
Mais cedo nesta segunda-feira, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, visitou a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Rio de Janeiro para acompanhar o cronograma de entrega da vacina. Inicialmente, a Fiocruz será responsável pela finalização das doses a partir de insumos importados, e depois será encarregada da produção nacional.
A previsão do governo é de que as primeiras doses sejam distribuídas a partir do início de 2021. Simultaneamente, o governo de São Paulo trabalha no desenvolvimento de uma outra vacina com a empresa chinesa Sinovac Biotech, que também tem previsão de distribuição no começo do próximo ano.
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, afirmou que a fundação está conversando com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para acelerar o processo, dado que o Brasil é o segundo país mais afetado do mundo pela pandemia, com mais de 3,9 milhões de casos confirmados e mais de 121 mil mortes.
"A Fiocruz está mobilizando todos seus recursos tecnológicos e industriais em prol do acesso da população à vacina no menor tempo possível. Estamos conversando com a Anvisa e parceiros tecnológicos com o intuito de reduzir os prazos de produção, registro e distribuição da vacina", disse a presidente da Fiocruz, segundo comunicado do Ministério da Saúde.
Apesar da promessa do governo de iniciar a produção local da vacina a partir de abril de 2021, especialistas ouvidos pela Reuters disseram que dificilmente o cronograma será cumprido, citando dificuldades de um processo complexo de transferência de tecnologia.
Segundo o ministério, o governo vai assinar nesta semana um acordo de encomenda tecnológica com a AstraZeneca, após as partes terem firmado memorando de entendimento no mês passado.