Por Lisandra Paraguassu e Jake Spring
BRASÍLIA (Reuters) - A publicidade dada a uma sequência de operações contra o garimpo em terras indígenas, nas últimas semanas, levou à exoneração nesta terça-feira do diretor de Proteção Ambiental do órgão, Olivaldi Borges Azevedo e, de acordo com quatro fontes ouvidas pela Reuters, deve derrubar mais servidores diretamente responsáveis pela fiscalização.
A exoneração de Azevedo foi publicada no Diário Oficial nesta terça-feira. De acordo com fontes, o segundo nome na hierarquia da fiscalização, Renê Luiz de Oliveira, deve ser exonerado até quarta-feira, enquanto o restante da equipe --os coordenadores de fiscalização, inteligência e logistíca, que respondem para Oliveira-- deve deixar os cargos até o final da semana.
A operação que irritou o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, aconteceu na semana passada em três terras indígenas no interior do Pará. Foi programada para reprimir garimpos ilegais, desmatamentos, caça ilegal de animais silvestres e, ao afastar os invasores, tentar impedir a chegada do coronavírus às aldeias indígenas.
Em uma das ações, os fiscais foram acompanhados por uma equipe de jornalismo da TV Globo e a operação foi mostrada em uma reportagem no último domingo no programa Fantástico. Essa seria a razão principal da irritação do ministro, de acordo com as fontes. Um dos chefes de fiscalização que devem ser demitidos participou pessoalmente e aparece na reportagem.
"Nós não tivemos nenhuma explicação do ministério ou da presidência do Ibama. Mas a única coisa que aconteceu foi a operação de combate ao garimpo ilegal", disse uma fonte.
Azevedo, major da Polícia Militar de São Paulo com mestrado na área de conservação ambiental, foi levado para o Ibama por Salles e era considerado seu homem de confiança dentro do Ibama. No entanto, de acordo com uma das fontes, a relação dos dois já estaria estremecida, uma vez que o ministro vinha cobrando mudanças na equipe de fiscalização do órgão, o que Azevedo não estaria disposto a fazer.
"Já tem desgaste algum tempo, tensões já aconteceram no ano passado, é comum, tanto com Bim (Eduardo Bim, presidente do Ibama) quanto com o ministro. Isso certamente poderia repercutir na equipe, com a mudança da equipe da fiscalização do Ibama. Existiam pressões e com essas pressões eles ensejavam desejo do mudança no equipe de fiscalicação", disse uma das fontes.
A reportagem mostrando a fiscalização teria sido a gota d'água e a justificativa para a demissão de toda a chefia da equipe.
O diretor era criticado pelos servidores por ter sido atropelado pela burocracia e ter retardado operações necessárias de fiscalização, mas a avaliação era de que a situação estaria melhorando.
Os demais servidores que podem perder os cargos de chefia são de carreira no Ibama.
"Esse era justamente nosso temor, que a saída do Azevedo levasse à exoneração do restante da equipe. Eles são nossa garantia nas operações de fiscalização", disse uma das fontes.
A Reuters procurou o Ibama, o ministro do Meio Ambiente e a assessoria do ministério para comentários sobre as demissões, mas não teve resposta até o momento.
A operação do Ibama foi feita em um momento em que o governo tenta controlar a chegada do coronavírus às aldeias indígenas. Na segunda-feira, o governo apresentou um plano inicial para levar luvas, máscaras e outros materiais de proteção. Sem tanto contato com as doenças de homens brancos, os indígenas seriam mais suscetíveis ao agravamento da Covid-19.
Até agora, pelo menos três indígenas já morreram com a Covid-19, de acordo com dados oficiais do Ministério da Saúde. Outros dois não foram contabilizados por morarem em cidades, e não nas aldeias.