BRASÍLIA (Reuters) - A Rede Sustentabilidade pediu, em uma carta enviada ao governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC), que o porteiro do condomínio onde o presidente Jair Bolsonaro mora na capital carioca seja incluído em um programa de proteção a testemunhas e a oposição quer acompanhar as investigações do assassinato da vereadora carioca Marielle Franco, ocorrido em março do ano passado.
O anúncio das medidas pelo líder da Rede no Senado, Randolfe Rodrigues, ocorre um dia após o Jornal Nacional, da TV Globo, noticiar que o porteiro disse em depoimento que Élcio Queiroz, um dos acusados de envolvimento no assassinato de Marielle, teria entrado no condomínio alegando que iria à casa de Bolsonaro no mesmo dia do assassinato.
Queiroz, no entanto, foi à casa de Ronnie Lessa, outro acusado do assassinato da vereadora e morador do mesmo condomínio. Sua entrada teria sido autorizada por uma pessoa que o porteiro identificou como “seu Jair”, de acordo com a reportagem. Registros da Câmara e imagens, no entanto, mostram que Bolsonaro estava no Congresso naquele dia.
“Acabamos de encaminhar uma carta a sua Excelência, o governador do Estado do Rio de Janeiro, Wilson José Witzel. Nessa carta nós pedimos que o porteiro... seja enquadrado no programa de proteção a testemunhas que existe naquele Estado”, disse Randolfe em coletiva de integrantes da oposição.
“É fundamental a essa altura ser dada toda a garantia, toda a segurança, mesmo que esse senhor não queira. O depoimento desse senhor a essa altura é fundamental para esclarecer todos esses fatos.”
Mas nesta tarde, o Ministério Público do Rio de Janeiro disse que o porteiro mentiu no depoimento. [nL2N27F27F]
“A informação dada pelo porteiro não é compatível com a prova pericial... não há compatibilidade entre os depoimentos do porteiro e a prova pericial. A pessoa que autoriza a entrada é Ronnie Lessa e qualquer afirmação que difere disso é equivocada e não guarda coerência com a prova técnica”, disse a promotora Simone Sibílio.
Reunida na manhã desta quarta, e com a ressalva de não querer fazer nenhuma “ilação” “acusação precipitada” sobre qualquer dos citados, a oposição condenou a tentativa de levar a investigação para o âmbito federal.
“Neste momento não há sentido interromper uma investigação que, com todas as dificuldades, conseguiu chegar ao assassino, conseguiu apurar pontos importantes”, defendeu o deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
“Nós entendemos que a federalização neste momento é um retrocesso, não devemos tirar a investigação do Ministério Público do Rio de Janeiro e da polícia do Rio de Janeiro”, afirmou o deputado.
A oposição também pediu a instauração de uma comissão de parlamentares para acompanhar a investigação, e quer convocar o ministro da Justiça e Segurança Püblica, Sergio Moro, para explicar sua atuação. O ministro encaminhou ofício nesta quarta ao procurador-geral da República, Augusto Aras, pedindo a abertura de inquérito para investigar a citação feita ao nome de Bolsonaro.
“Nós vamos apresentar um pedido de convocação do ministro à Comissão de Controle e Fiscalização do Senado Federal para que ele venha explicar porque é que sem ser advogado do presidente, e utilizando a condição de ministro, ele se dirige ao Ministério Público Federal, à Procuradoria-Geral da República, para, no nosso ver, intimidar o depoente”, afirmou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE).
“Se o depoente disse a verdade ou não, isso cabe à investigação chegar às últimas consequências.”
Em transmissão ao vivo nas redes sociais na madrugada desta quarta em Riad, na Arábia Saudita, onde está em viagem oficial, Bolsonaro, bastante exaltado, atacou a TV Globo, o governador do Rio de Janeiro, a quem acusou de vazar as investigações para e emissora, e negou qualquer participação no assassinato da vereadora, que era filiada ao PSOL. [nL2N27F09G]
(Por Maria Carolina Marcello, em Brasília, Eduardo Simões, em São Paulo, e Rodrigo Viga Gaier, no Rio de Janeiro)