Por Maria Carolina Marcello
BRASÍLIA (Reuters) - O economista Gabriel Galípolo, ex-número 2 do Ministério da Fazenda, foi aprovado nesta terça-feira pelo Senado para assumir a diretoria de Política Monetária do Banco Central, por 39 votos a 12, e já deve participar da próxima reunião do Copom, em agosto, quando a expectativa é de corte de juros.
O servidor de carreira do BC Ailton Aquino, indicado para comandar a diretoria de Fiscalização da autarquia, também foi aprovado pelo Senado, por 42 votos a 10.
Os dois passaram por sabatina mais cedo na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Na ocasião, Galípolo defendeu que medidas da equipe econômica criaram as condições para a queda da Selic em breve e ressaltou que o governo é quem determina o destino econômico do país.
"As medidas até aqui implementadas produziram no primeiro semestre a valorização da nossa moeda, previsões de um déficit primário menor, aprovação de uma nova regra fiscal, projeções de crescimento mais elevado, menor inflação, e o mercado já projeta taxas de juros mais baixas e cortes na taxa de juros futura", disse Galípolo aos senadores.
Galípolo e Aquino serão os primeiros diretores do BC indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na atual dinâmica de nomeações do BC, que leva em conta a autonomia da instituição. Pela lei de autonomia, os diretores e o presidente do BC possuem mandatos fixos e, deste modo, só podem ser substituídos ao final de seus mandatos, que não são coincidentes.
A expectativa do governo e de boa parte do mercado financeiro é de que principalmente Galípolo, que ocupará o segundo posto na hieraquia do BC, seja um contraponto à atual cúpula da autarquia, considerada excessivamente rígida na política monetária.
O principal símbolo desta rigidez é o presidente do BC, Roberto Campos Neto, que vem sendo criticado por diferentes integrantes do governo.
O presidente Lula e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, têm repetido que as condições para o início do ciclo de cortes da taxa básica Selic, atualmente em 13,75% ao ano, estão criadas.
Por outro lado, Campos Neto, cujo mandato vai até o fim de 2024, tem adotado um discurso cauteloso em relação à possível baixa dos juros, considerando a inflação brasileira.
No entanto, Galípolo e Aquino chegarão à cúpula do BC em um momento em que a instituição se prepara para iniciar o processo de cortes da Selic. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária do BC está marcada para os dias 1º e 2 de agosto, quando os dois já terão tomado posse.
No mercado brasileiro, a curva a termo precificava no fim desta terça-feira 49% de probabilidade de o BC cortar a Selic em 0,25 ponto percentual em agosto e outros 51% de chances de a redução ser de 0,50 ponto percentual. Ao longo do dia, estes percentuais oscilaram, mas os números indicam que o mercado está dividido sobre a intensidade do corte.
Desde a semana passada, quando a ata do último encontro do Copom passou a ideia de que a porta está realmente aberta para o início da redução da Selic, investidores tem elevado posições em um eventual corte de 0,50 ponto em agosto, embora economistas ouvidos pela Reuters tenham citado nos últimos dias certo "exagero" nesta precificação.
O fato é que a chegada de Galípolo ao BC tende a coincidir com o início do ciclo de flexibilização monetária -- um dos apelos mais recorrentes do presidente Lula desde que assumiu a Presidência, em janeiro.
(Reportagem adicional de Fabrício de Castro)