A SPU-CE (Superintendência do Patrimônio da União no Ceará) aprovou na 4ª feira (20.dez.2023) a construção de usina de dessalinização na Praia do Futuro, em Fortaleza. A medida contraria orientação da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), que recomenda outro local para a construção do projeto por risco de rompimento dos cabos.
Segundo nota da Cagece (Companhia de Água e Esgoto do Ceará), o projeto da Dessal do Ceará atende às especificações necessárias de distanciamento de cabos. O empreendimento é orçado em R$ 520 milhões.
O projeto visa à construção de uma usina, que tem estrutura no fundo do mar, para tornar a água potável, principalmente, para ser usada em período de seca no Ceará.
A Praia do Futuro é um dos locais no Brasil mais próximos da Europa. Assim, é o 1º que recebe cabos de fibra ótica do continente. A partir de Fortaleza, esses cabos vão para Rio de Janeiro, São Paulo e países da América Latina. Se os cabos forem rompidos no Ceará, o serviço de internet pode ser afetado em todo o continente, deixando usuários off-line ou com a internet lenta.
O parecer da SPU-CE altera a distância das tubulações dos cabos de internet de 40 metros para 567 metros, a pedida da Anatel. A agência diz, porém, que essa é só uma das 11 recomendações do ICPC (International Cable Protection Committee).
“Os cabos submarinos são infraestrutura essencial ao funcionamento das telecomunicações e da internet no Brasil e também para o fluxo de informações internacional. Falhas nos cabos provocam danos, e seu reparo decorre de atividade lenta e complexa, envolvendo navios de enorme tamanho, mergulhadores e equipamentos subaquáticos. A adição de riscos, portanto, é indesejável e imprudente”, afirmou a Anatel.
Com a aprovação da SPU-CE, o próximo passo é o requerimento da emissão da Licença de Instalação da planta para a Semace (Superintendência Estadual do Meio Ambiente). Depois de finalizada esta etapa, a construção da planta de dessalinização deverá começar até março de 2024.
USINA IMPACTAR EMPRESAS NO CE
O projeto do Governo do Ceará de construir a usina de dessalinização na praia do Futuro, em Fortaleza, pode fazer com que empresas de internet deixem de se instalar na região, considerada o maior hub de tráfego de dados do país. A afirmação é de Luiz Henrique Barbosa da Silva, presidente-executivo da TelComp (Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas).
A praia do Futuro recebe 17 cabos de 8 empresas. O Ministério das Comunicações estima que 99% do tráfego de dados do Brasil passa por lá. O temor de empresas do setor é que a proximidade da estrutura com os cabos cause instabilidade ou interferência, afetando a conexão no país. O Estado, no entanto, nega qualquer risco às estruturas.
“Quando se pensa numa comunicação com os Estados Unidos, o grosso vai por cabo submarino, e não por satélite. Fortaleza, há mais de 20 anos, vem se destacando como um hub de cabos. Até porque a tecnologia até então permitia lances de 4.000 quilômetros para ancorar em algum lugar. Tem cabo que vem da Europa e dos Estados Unidos, e outros levando para a África, países da América do Sul e outros Estados do país. Alguns têm 20 anos já”, afirmou o executivo.
Luiz Henrique Barbosa da Silva mencionou que a tecnologia atual permite cabos de 12.000 quilômetros, como foi feito de São Paulo a Nova York. Com essa possibilidade somada ao fato da praia do Futuro receber uma usina, que traria insegurança ao investidor, ele acredita que novos projetos migrem para outras regiões do país.
“Se essa usina já estivesse lá, pode ter certeza que as empresas não colocariam o cabo no mesmo local. É uma unidade industrial. A gente não pode conviver com uma infraestrutura que pode causar dano às nossas redes. É só pensar: quem em casa colocaria o computador do lado da máquina de lavar, que vibra e mexe com água? A lógica é a mesma”, afirmou.
Eis a íntegra da nota da Cagece:
“A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) informa que foi favorável o parecer da Superintendência do Patrimônio da União (SPU-CE) em relação à construção da planta de dessalinização na Praia do Futuro, em Fortaleza.
“Segundo o órgão, após o afastamento das tubulações, o projeto da Dessal do Ceará atende às especificações necessárias de distanciamento de cabos: “a nova distância (567m) é suficiente para superar a exigência de afastamento, já explicado conforme relatório do ICPC (Comitê Internacional de Proteção de Cabos) , onde o mesmo “recomenda uma separação padrão de pelo menos 500 metros na água”.
“O próximo passo, agora, é o requerimento da emissão da Licença de Instalação da planta para a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace). Após finalizado esta etapa, a construção da planta deverá ser iniciada até março de 2024.”