Por Gustavo Bonato
SÃO PAULO (Reuters) - A cotação do dólar ante o real, que subiu nesta sexta-feira para níveis que não eram vistos em quase seis meses, ainda não deverá ser suficiente para elevar de forma expressiva os preços da soja no Brasil e destravar os negócios da nova safra, que começa a ser plantada em poucos dias, disseram especialistas.
O dólar bateu quase 2,35 reais nesta sexta, em alta influenciada por pesquisas eleitorais, deixando mais firme o preço da commodity no Brasil. Mas esses ganhos pelo câmbio esbarram em preços menores no exterior.
A cotação da soja na bolsa de Chicago (CBOT) continuou negociada abaixo de 10 dólares por bushel, perto da mínima de quatro anos.
"Por enquanto muda muito pouco. A queda acumulada da semana na CBOT foi muito grande em função do (relatório de safra do) USDA de ontem", disse o diretor da França Junior Consultoria, Flávio França Jr.
Segundo o consultor, atualmente 10 por cento da safra 2014/15 está comercializada antecipadamente, contra 25 por cento das vendas da safra 2013/14 um ano atrás, e 22 por cento da média histórica para o período.
A última vez que a comercialização antecipada de uma safra esteve tão baixa foi em 2009/10, quando os preços internacionais bateram em patamares semelhantes aos atuais, disse França Jr.
O mercado da oleaginosa segue pressionado pelas perspectivas de uma produção recorde nos EUA, a ser colhida nas próximas semanas e de uma nova safra histórica no Brasil, onde o plantio começa ainda este mês, com colheita prevista a partir de fevereiro de 2015, conforme reforçaram dados do Departamento de Agricultura norte-americano (USDA) divulgados na quinta-feira.
Os preços oferecidos pela soja nos portos reagiram levemente, mas ainda não estimulam as vendas, disse o operador de commodities Marco Henrique Serra, da Itrading, de Curitiba.
Segundo ele, os preços comentados em Paranaguá (PR) ficaram entre 54,50 reais a 55,50 reais por saca nesta sexta-feira, alta de cerca de 1 real ante o registrado na semana passada, já por efeito do câmbio.
"Por incrível que pareça, por ora nada muda (na comercialização). O produtor não está vendendo", disse.
Segundo Serra, o câmbio começaria a aquecer os negócios com soja se ficasse acima de 2,40 reais.
"A grande maioria dos produtores está comercializada abaixo de 20 por cento da safra nova, mesmo quando o mercado indicava possibilidade de níveis menores", disse Pedro Dejneka, presidente da consultoria AGR Brasil, em Chicago.
O contrato futuro da soja na CBOT para março de 2015, mês de forte colheita e muitos negócios com soja no Brasil, já caiu mais de 12 por cento desde o início do ano.
"O produtor brasileiro, por sua grande maioria, não aproveitou preços melhores para comercializar a sua produção", disse Dejneka. "Infelizmente, acredito que somente alguns saberão aproveitar (a atual janela de oportunidade de alta do dólar)."
O Cepea, centro de pesquisas da Universidade de São Paulo, destacou em relatório nesta sexta-feira que "as negociações estão bastante lentas". Cerca de 15 por cento da soja da safra 2013/14, já colhida, ainda não foram negociados, e apenas 12 a 14 por cento da soja da temporada 2014/15 foram comercializados antecipadamente.