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ANÁLISE-Riscos de compra de títulos podem se sobrepor a benefícios para BCs de emergentes

Publicado 06.05.2020, 15:50
Atualizado 06.05.2020, 17:51
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Por Karin Strohecker

LONDRES (Reuters) - Os bancos centrais de mercados emergentes estão lançando programas de compra de ativos para ajudar a mitigar o impacto econômico do coronavírus, um novo teste de ferramentas de política monetária não convencionais adotadas pelas economias desenvolvidas apenas uma década atrás.

Uma dúzia de países, do Chile às Filipinas, passando por África do Sul e Turquia, lançou ou impulsionou esquemas de flexibilização quantitativa (conhecida pela sigla em inglês QE), através dos quais compram títulos do governo e, às vezes, outros títulos domésticos.

Como o Federal Reserve e outros grandes bancos centrais que usam QEs desde a crise financeira global de 2008 e 2009, eles pretendem apoiar suas economias com dinheiro recém-criado para estimular empréstimos e investimentos, à medida que as taxas de juros atingem mínimas recordes.

Mas algumas ex-autoridades e analistas alertam que repetir o que é essencialmente um experimento de política monetária nas economias emergentes pode ter consequências indesejadas.

"Acho que não é aconselhável ou necessário que os mercados emergentes entrem na flexibilização quantitativa agora", disse Divvuri Subbarao, que foi presidente do banco central da Índia de 2008 a 2013, alertando sobre os perigos de sugestões de que o banco indiano poderia ajudar o governo a monetizar seu déficit orçamentário ao comprar títulos.

"Não é necessário. Eles têm instrumentos convencionais suficientes disponíveis e ainda podem reduzir as taxas agora", acrescentou. "E, além disso, os bancos centrais estão assumindo um risco de crédito, e não acho que os bancos centrais de mercados emergentes estejam em posição de assumir tal risco."

Economias emergentes, como Turquia ou África do Sul, carecem dos grandes fundos de poupança doméstica vistos nos países desenvolvidos e contam com investidores estrangeiros --atraídos por taxas de juros relativamente altas-- para cobrir grandes déficits no balanço de pagamentos e sustentar suas moedas.

Quaisquer medidas que aproximem os juros a zero, observadas há muito tempo nas principais economias, correm o risco de impedir esses vitais fluxos de recursos vindos do exterior.

"Em países de juros mais altos, que já perderam de fato um certo grau de acesso ao mercado, os riscos de um QE são maiores", disse Saad Siddiqui, do JPMorgan.

"Existe o risco de que, em um ponto de virada desconhecido, uma combinação de medos sobre indisciplina da política monetária, inflação e saídas de capital dominem os mercados, com controles de capital sendo um possível estágio final."

Esse ponto crítico pode ser determinado por uma combinação de fatores, incluindo o tamanho de qualquer QE e a capacidade das autoridades de convencer os mercados de sua natureza temporária, disse Siddiqui.

As pressões inflacionárias, a estrutura do mercado local de títulos e o tamanho das reservas cambiais disponíveis --para esterilizar as compras de títulos ou apoiar a moeda, se necessário-- também desempenharão um papel.

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No Brasil --que liderou o coro de protestos das economias em desenvolvimento contra o QE do Fed após o crash de 2008--, a expectativa é que o Banco Central receba poderes de emergência para comprar ativos financeiros em tempos de crise econômica, e não apenas para política monetária ou gerenciamento da oferta de dinheiro.

A Câmara dos Deputados concluiu na noite de segunda-feira a aprovação em primeiro turno da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Orçamento de Guerra, que inclui uma autorização ao Banco Central para comprar títulos públicos e títulos privados de crédito direto no mercado.

Um colapso do mercado induzido pela pandemia já atingiu muitas moedas de mercados emergentes. O real e o rand sul-africano já perderam mais de 25% de seu valor em relação ao dólar em 2020, enquanto a lira turca se enfraqueceu mais de 17%.

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