Por Marta Nogueira
RIO DE JANEIRO (Reuters) - A mineradora Vale avalia que o cenário para os preços de minério de ferro em 2015 deve se manter difícil, mas provavelmente os valores não serão menores que os atuais, em meio a uma grande oferta no mercado e problemas econômicos em importantes economias, disseram executivos da empresa nesta terça-feira.
Os preços de minério de ferro na China estão próximos de uma mínima de mais de cinco anos, com expansão da oferta das grandes mineradoras e um crescimento mais lento da demanda do mercado chinês.
Além disso, economias como a Japão têm enfrentado problemas, disse o presidente-executivo da Vale, Murilo Ferreira, ressaltando que isso ajuda a pressionar as cotações.
Nesta terça-feira, o minério foi cotado a 68,10 dólares, perto de 68 dólares/tonelada, menor patamar desde junho de 2009 e que foi alcançado em 26 de novembro.
"2015 vai ser um ano difícil, mas é muito difícil prever como vai ser o preço, provavelmente não vai ser menos do que nós temos hoje", afirmou a jornalistas nesta terça-feira o diretor de ferrosos da companhia, Peter Poppinga.
O minério de ferro responde pela maior parte das receitas da Vale, a maior produtora global da commodity, que tem na China seu principal cliente.
Poppinga destacou que no próximo ano ainda haverá nova oferta de minério de ferro entrando no mercado, mas são esperadas saídas de mineradoras de maior custo.
Ele acredita que um equilíbrio entre oferta e demanda de minério de ferro deve acontecer dentro de um ou dois anos, juntamente com a estabilização dos preços.
Poppinga não revelou as previsões de preços da Vale.
O executivo lembrou que há uma capacidade de produção no mundo de 220 milhões de toneladas de minério que tem um custo de produção maior que o preço de venda.
Em 2014, entre 150 milhões e 160 milhões de toneladas deixaram o mercado devido aos preços baixos, segundo o diretor, sendo que um volume de 100 milhões de toneladas é proveniente de mineradoras chinesas, conhecidas por terem altos custos de produção.
FRAQUEZA ECONÔMICA
A sobreoferta de minério se combina com uma Europa "anêmica" e um Japão que está com problemas econômicos, na avaliação do presidente-executivo da Vale, Murilo Ferreira.
Além disso, ele declarou que a China voltou as suas preocupações para aumento da renda per capita do país e para a redução das desigualdades sociais.
"Eu vejo o cenário internacional muito preocupante para o ano que vem, não vejo de forma alguma um cenário céu azul", disse Ferreira.
Por outro lado, o executivo ponderou que a Vale já havia previsto o fim do super ciclo de minério entre 2011 e 2012 e, por isso, pôde se preparar para tempos mais difíceis.
"Hoje a Vale é uma empresa muito mais leve do que era em 2011", afirmou Murilo. "Nós perseguimos uma austeridade no momento certo, desinvestindo em negócios, no ano passado foram 6 bilhões de dólares (em desinvestimentos)", destacou.
Neste ano, Ferreira ressaltou a operação de venda de participação na mina de carvão Moatize e ferrovia em Moçambique, para a japonesa Mitsui, que pode evitar uma saída de caixa de 3,7 bilhões de dólares.
Ferreira também disse que ainda há outras operações de desinvestimentos de ativos que podem ser estudadas. Dentre elas, Ferreira citou uma possível venda de navios Valemax, semelhante a transação efetivada com a Cosco, neste ano.
Pelo acordo, quatro navios Valemax com capacidade de 400 mil toneladas, que atualmente pertencem e são operados pela Vale, serão transferidos para a Cosco (COSCO.UL) e afretados para a Vale em contrato de 25 anos.
Segundo o diretor-executivo de Finanças da Vale, Luciano Siani, a Vale tem 15 Valemax, que somam em valor de mercado entre 1,5 bilhão e 2 bilhões de dólares.
"Esse é o tipo de transação que a gente quer fazer, porque tira do nosso balanço esse capital investido, que é expressivo, e a gente assegura competitividade no longo prazo com arrendamento", disse Siani. "Se houver condições favoráveis podemos vir a fazer novas transações desse tipo."
(Edição de Roberto Samora)