SÃO PAULO (Reuters) - A Verde Asset Management avalia que a sustentabilidade fiscal de longo prazo é hoje o maior problema brasileiro e mesmo as metas de superávit primário revisadas parecem otimistas demais.
"A situação fiscal está em trajetória tão ruim que é possível que cheguemos em 2018 com uma dívida bruta perto de 75 por cento do PIB e déficits nominais nestes quatro anos próximos de dois dígitos", diz o relatório de gestão de julho do Fundo Verde (Verde FIC FIM).
No mês passado, o governo brasileiro anunciou redução drástica das metas de superávit primário neste e nos próximos dois anos, devido à frustração da receita em meio a um cenário de contração econômica.
A equipe da gestora Verde comandada por Luis Stuhlberger disse que a maneira e o momento da comunicação da revisão das metas pegaram o mercado de surpresa.
Para a equipe do Verde, não foi uma derrota do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, mas uma rendição à realidade de que no atual ambiente político o Congresso aprovaria "duas unidades de desajuste fiscal de longo prazo a cada unidade de ajuste fiscal de curto prazo aprovada".
Para a gestora, o quadro político permanecerá conturbado, embora pressões para uma pausa no processo de 'quanto pior, melhor' virão naturalmente do meio empresarial, assim como é de interesse do PMDB fazer parte do governo ao menos até as eleições municipais no ano que vem.
Em relação a um eventual processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, a gestora observa que a operação da Lava Jato faz vítimas dentro e fora do governo, e a gravidade da acusação sobre os diversos envolvidos, com a devida comprovação, irá determinar a viabilidade de tal evento. Para a gestora, hoje, essa viabilidade não existe.
Em relação ao câmbio, a Verde observa que não há saída de capitais relevante ainda e que os fluxos estão razoavelmente equilibrados.
"Se avaliarmos o câmbio atual, ajustado pelo carrego, parece estar no preço justo. Se desconsiderarmos o carrego, o que economicamente é impossível, o valor mais justo (do dólar) seria em torno de 4 reais", diz o relatório do mês de julho.
A Verde tem como cenário provável que o país conseguirá se "arrastar" até a próxima eleição, "porque com mais inflação e câmbio depreciado conseguirá ganhar tempo e atingir um certo equilíbrio vicioso --não virtuoso-- por sermos um país exportador de commodities e termos 370 bilhões de dólares de reservas".
"Mas este cenário entre o equilíbrio vicioso e o 'cair no abismo' não é livre de riscos", alerta o time de Stuhlberger.
O fundo teve ganho de 5,41 por cento no mês passado, ante alta de 1,18 por cento do CDI. No acumulado do ano, o Verde FIC FIM exibe alta de 21,04 por cento, contra variação positiva de 7,16 por cento do CDI.
(Por Paula Arend Laier e Guillermo Parra-Bernal)