Por Diego Oré e Brian Ellsworth
CARACAS (Reuters) - A oposição venezuelana assumiu o controle da Assembleia Nacional pela primeira vez em 16 anos em uma sessão confusa, estabelecendo uma disputa de poder com o presidente do país, Nicolás Maduro, em meio a uma crise econômica que vem se agravando.
A coalizão Unidade Democrática ganhou uma maioria de dois terços nas eleições legislativas de dezembro, na esteira do descontentamento da população com uma economia que encolhe, com o aumento de preços e a falta crônica de produtos que lembra a situação de países do antigo bloco soviético.
Maduro criticou a nova Assembleia como de "direita" e "burguesa" e acusa a oposição de preparar um recuo dos programas sociais criados por Hugo Chávez, ex-presidente socialista morto.
O veterano parlamentar de oposição Henry Ramos foi eleito o novo presidente do Congresso numa sessão em que os dois lados cantaram refrãos um contra o outro e trocaram acusações de corrupção e traição.
"O que oferecemos na nossa campanha? Recuperar a autonomia do Legislativo", disse Ramos no seu discurso inaugural. "Isso tem sido um alto-falante do palácio presidencial, a câmara de eco do Executivo."
Ramos ostentou o novo controle da oposição sobre o Legislativo ao cortar abruptamente a o discurso crítico de um deputado do Partido Socialista contra a oposição, dizendo que o tempo dele havia acabado.
Quando provocado por outro parlamentar socialista sobre os procedimentos, Ramos disse: "Acalme-se, parlamentar, as coisas mudaram aqui."
As eleições de 6 de dezembro deram à oposição a sua mais decisiva vitória desde que o presidente Hugo Chávez chegou ao poder em 1999. Os generosos gastos sustentados pelos rendimentos do petróleo o tornaram praticamente invencível em eleições durante 14 anos.
Maduro tem dificuldades desde a sua eleição em 2013 para reproduzir o carisma do líder falecido. O seu governo tem repetidas vezes hesitado em implementar reformas econômicas, apesar de prometê-las.
Nesta terça-feira, jornalistas entrevistaram parlamentares e andaram livremente no Congresso pela primeira vez em anos, uma prática que havia sido proibida pelos socialistas.
Um retrato de Chávez que havia no plenário principal do Parlamento, um símbolo do que os críticos chamam politização ilegal das instituições públicas, foi removido.