Virgínia Hebrero
Davos (Suíça), 28 jan (EFE).- O ministro das Relações Exteriores
do Brasil, Celso Amorim, afirmou hoje que são necessários
investimentos imediatos no Haiti para reconstruir o país após o
terremoto que o devastou em 12 de janeiro e para que a população
haitiana tenha esperança no futuro.
É importante "pensar a médio e longo prazo", ressaltou o
chanceler brasileiro no Fórum Econômico de Davos, que reúne nesta
semana dezenas de líderes políticos e empresários de todo o mundo.
Amorim identificou as áreas que considerou prioritárias para essa
reconstrução a médio e longo prazo e para as quais ofereceu a
colaboração do Brasil.
Entre elas, sugeriu a criação de "trabalhos para os jovens do
Haiti" em setores como o têxtil, além de promover reestruturar o
meio ambiente do país.
"Precisamos realizar um programa em massa para replantar árvores
no Haiti, para evitar que essa terra que já estava devastada antes
do terremoto provoque inundações. Isto poderia ser financiado pelas
grandes instituições financeiras assim como pelo setor privado."
Amorim também comentou a ausência no Fórum do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, que sofreu uma crise de hipertensão e foi
hospitalizado hoje no Recife. O presidente receberia o prêmio de
Estadista Global, o primeiro dessa categoria, com o qual os
organizadores do Fórum queriam homenageá-lo pelos dois mandatos no
Governo.
"Eu acho que Lula deve estar frustrado. Não por não poder receber
o prêmio, o que, claro, sempre é bom, mas por não poder vir aqui
pessoalmente trazer sua mensagem", explicou Amorim.
O ex-presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, enviado especial
da ONU para o Haiti, fez um apaixonado discurso aos participantes do
Fórum para que invistam no país caribenho a fim de reconstruí-lo de
forma diferente à de antes do terremoto.
"O Haiti tem a oportunidade de escapar de seu passado e construir
um futuro melhor que o de antes. Não se trata de reconstruir Haiti
tal como era", disse o ex-presidente americano.
Clinton se referiu primeiro às necessidades imediatas dos
haitianos, que apesar dos esforços da ONU e de dezenas de ONGs
continuam sem abrigo. Ele pediu que se façam contribuições ao país
para poder melhorar o sistema de distribuição de água e alimentos às
centenas de milhares de desabrigados, assim como dar-lhes abrigo e
saneamento.
"Não quero que o povo tenha que se preocupar com onde comer, onde
receber água ou onde dormir. Mas agora há 15 pontos de distribuição
de comida e água e necessitamos 100 ou 200", assinalou.
Para isso, pediu com urgência "caminhões não muito grandes,
caminhões de distribuição. Preciso de 100, e preciso deles para
ontem", preconizou.
Mas Clinton também apelou aos empresários a investir a longo
prazo no Haiti e assegurou que existe um grande potencial para isso.
Ele disse que em algumas ocasiões no passado em que levou
empresários ao Haiti para ajudar à recuperação econômica do país, a
maioria "ficou surpreendida pelas oportunidades viram".
Na mesma sessão especial dedicada ao Haiti, outros participantes
encorajaram investimentos no país devastado, que já era o mais pobre
da América Latina antes do terremoto.
O empresário irlandês Denis O'Brien, da empresa Digicel, que está
trabalhando no Haiti para a reparação do sistema de
telecomunicações, também enfatizou as grandes oportunidades de
investimento que, em sua opinião, oferece Haiti.
"O Haiti é um lugar magnífico para fazer negócios. Tem uma
população muito jovem e 10 milhões de consumidores" que poderiam se
tornar ativos a partir de um plano apropriado de desenvolvimento
para o país, explicou.
O'Brien destacou setores potenciais para fazer negócios como o
turismo, a reconstrução da capital, Porto Príncipe, e o setor de
infraestruturas. O empresário disse que desde que sua empresa
trabalha no Haiti, "nunca tivemos problemas de nenhum tipo, nem com
o Governo".
"É um desafio, mas o Haiti tem as portas abertas aos negócios",
acrescentou, "com um mercado de trabalho mais barato que nos EUA e a
dois passos dali". EFE