Virgínia Hebrero.
Madri, 13 dez (EFE).- A divulgação de documentos secretos por parte do WikiLeaks, a organização criada por Julian Assange, desencadeou uma revolução nas redações jornalísticas e algumas mudanças em como os governos devem tramitar suas ações e relações internacionais.
Esta é a mensagem da pesquisa realizada pelo jornalista espanhol Borja Bergareche, autor do livro "WikiLeaks Confidencial". Trata-se de uma analise da chamada "era WikiLeaks", "uma espécie de aceleração da era digital", como descreve o autor em entrevista à Agência Efe.
Lançado nesta terça-feira em Madri, o livro mostra "como os jornais administram o tesouro WikiLeaks, já que a organização consegue fornecer uma gigantesca planilha de excel com 750 mil itens, entre eles 90 mil sobre a guerra do Afeganistão e outras 350 mil sobre a guerra no Iraque".
Segundo o autor, o primeiro desafio das redações é encontrar diretores técnicos para "construir um procurador ou um aplicativo de armazenamento destes dados, isso para que os jornalistas especializados possam buscar informações e desenvolver reportagens com este material".
Para ilustrar esta tarefa, Bergareche entrevista os responsáveis técnicos dos grandes jornais internacionais que já divulgaram os documentos do WikiLeaks, entre eles o espanhol "El País" e o britânico "The Guardian".
A partir desse conceito surgem as dinâmicas inovadoras nas redações: os jornalistas se dão conta da importância de ter bons técnicos, e estes aprendem que devem ser mais sensíveis às necessidades do jornalista. O terceiro elemento é o infográfico.
Bergareche não acredita que os três "megafazamentos" de 2010 - os jornais do Afeganistão, os do Iraque e os arquivos diplomáticos dos Estados Unidos - foram a maior da história, nem o de maior importância.
Este é um mérito que se atribui aos papéis do Pentágono sobre a Guerra do Vietnã, que foram revelados pelo jornal "The New York Times" em 1971, e que o Departamento de Defesa dos EUA desclassificou em junho deste ano.
De fato, a reação dos EUA às divulgações secretas do WiliLeaks "não foram nada histéricas, não marcou o final da diplomacia internacional e não forçou a retirada dos EUA do Afeganistão, como Assange pensava que ia acontecer", disse.
"Claro que houve uma espécie de fofoca global durante meses, já que os arquivos nos ajudaram a ver melhor como se dirigem as relações internacionais. Porém, não houve um cataclismo. As baixas causadas pelo WikiLeaks se resumiram em 4 ou 5 demissões, como a dos embaixadores americanos no México e Equador", acrescenta.
O livro assinala que a organização de Assange só teve acesso a 2,3% de todos os arquivos do Departamento de Estado dos EUA entre 2004 e 2010.
"O WikiLeaks levantou as saias da diplomacia do império, e todos podemos desfrutar olhando e escutando essas novas informações. Mas, trata-se de uma quantidade pequena e, por isso, não chega a provocar reações histéricas", afirma o autor.
Bergareche considera que "o achado histórico mais importante apresentado pelo WikiLeaks está nos jornais do Iraque, que revelaram 15 mil vítimas civis que não estavam sendo contabilizadas no conflito. Além de desmascarar uma mentira, os dados supõe que o número de vítimas civis poderia passar dos 100 mil".
Para os Governos, a principal consequência é "a advertência que já não podem proteger seus arquivos secretos com paradigmas da Guerra Fria. A diplomacia internacional requer certo nível de confidencialidade, mas não deve ter o que esconder e nem o que temer".
"Os EUA é tido como um monstro dos arquivos secretos. Em 2010, 4 mil funcionários classificaram 75 milhões de documentos. Isso não é nada operacional", assinala o jornalista, que lembra que a principal ameaça da era digital são os ciberataques. EFE